Naqueles tempos: 1985, o rock e a política
Janeiro de 1985. Ano de mudanças.
As chamadas do Rock ‘n Rio na
televisão anunciavam que o Brasil seria movimentado. Com 12 anos e já
apreciando rock, não tive autorização para ir ao evento. Embora houvesse muito
diálogo em casa, nem se discutiu aquela possibilidade. Sem chance. A resposta
foi uma irônica piada do meu pai. Teria de me resignar com as transmissões
esporádicas da Rede Globo.
Boatos sobre a duvidosa presença de
algumas bandas marcavam o tom das conversas na escola e no clube. Yes, AC/DC,
Queen, Iron Maiden e Whitesnake viriam de fato? Reclamações também abundaram. “O
que o Gil tem a ver com Rock? E o Ivan Lins?”. Os metaleiros não poderiam
admitir que representantes da MPB estivessem misturados no maior evento de rock
do mundo. “E James Taylor? Aquele violão insosso, vozinha fina...”.
Ainda em janeiro daquele ano,
teríamos a disputa no colégio eleitoral: Tancredo versus Maluf. No ano anterior, as ruas tinham sido tomadas pela
campanha das “Diretas Já”, que defluía da emenda constitucional proposta por Dante
de Oliveira. Nós, alunos da 6ª série, colocávamos uma fita amarela nos adereços
escolares e íamos para as aulas. Alguns tinham as camisas amarelas com a
inscrição “Eu quero votar pra presidente”. Chico Buarque havia composto “Pelas
tabelas”, uma espécie de conclamação ao “movimento”. A emenda, entretanto, foi vetada e o confronto
entre Tancredo e Maluf, inevitável.
Lembro-me de ter assistido à
votação no Colégio Eleitoral com minha mãe. Já naquela época eu havia cultivado
uma inequívoca e justificada repulsa ao sr. Paulo Maluf. A certeza de que jamais
votaria nele era tão inexorável quanto a morte. De outro lado, não sabia
exatamente o que significavam as forças que apoiavam Tancredo. Todavia, em face
da possibilidade de Maluf ser presidente, qualquer candidato poderia ser
melhor.
Tancredo foi eleito. Assisti a
programas que narraram sua trajetória, mostravam seus discursos e suas
ambições. Ouvi dizer que deveríamos aguardar um Brasil sem tantos privilégios
para os mais abastados. Uma vaga noção sobre a ideia de combate ao patrimonialismo
parecia traçada pelo político mineiro. Enfim, havia o anúncio de algo novo. Para
mim, naquela época, o novo era incerto.
Em pouco tempo, a notícia da
internação do futuro presidente foi nacionalmente divulgada. Muito se especulou e
juraram que ele não chegaria a assumir. No dia 21 de abril, pouco antes de
dormir, ouvi Antônio Britto anunciar sua morte.
Puta que pariu, pensei. E
agora?
Um comentário:
onde continua?
Postar um comentário