segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Chico, Caetano e o taxista


Na semana passada, escrevi sobre a conversa que tive com um taxista carioca e lembrei-me de uma piada envolvendo Chico e Caetano. Para que ninguém imagine ser eu o autor da anedota, advirto que foi publicada na Folha de S. Paulo, em 20/04/2006, num pequeno artigo intitulado "Especialista em surfe comandou a edição". Ei-la:

"Helena, filha de Chico, entrou em um táxi de Salvador, e o rádio tocava uma música do pai. O motorista falou: "Esse Chico Buarque é o maior veado". Alguém que estava no carro contestou, brincando: "Não, ele tem até filhas". O taxista não cedeu: "E daí? O Caetano Veloso também tem'".

É só... Por ora é só...

domingo, 10 de fevereiro de 2008

O taxista carioca

Numa crônica da Folha de S. Paulo, da semana passada, Drauzio Varella escreveu sobre um taxista sempre cheio de certezas. O sujeito era divertidíssimo e, segundo consta, tinha solução para todas as mazelas do país. Não é difícil encontrar gente como ele...

Lembrei-me das inúmeras vezes em que coloquei-me a falar com taxistas, sobre assuntos os mais variados. Eles, afinal, sempre têm algo a dizer. Alguns são calados e não escondem que não estão dispostos a nenhum tipo de conversa. A outros, ao contrário, basta uma pergunta para iniciar aquilo que poderá se converter num debate. Existem, também, aqueles que nem precisam ser provocados. Perguntam-nos de onde viemos, a razão da viagem (se passeio ou trabalho), se moramos aqui ou lá, o que fazemos da vida, enfim.

Acho que a maioria se compraz em falar do tempo, tema universal para momentos em que predomina aquele silêncio insosso... O curioso é que, ao menos comigo, nunca ninguém teve critérios razoáveis para explicar as variações de temperatura.

Num mês de chuvas freqüentes, ao cair da tarde, perguntei ao chofer como esteve o tempo naquele dia, se bom ou ruim. Numa resposta precisa e lacônica, ele asseverou: "Mais ou menos". Não esperei que fosse completar a explicação. Passamos a corrida calados.

Às vezes também desejo sossego. Fico quieto. Se o taxista puxa conversa, tudo bem, vamos lá... Foi o aconteceu no Rio, em agosto de 2006.

Eu havia ido para lá a fim de dar uma palestra no Museu da República, sobre Mário de Andrade, os intelectuais e o Departamento de Cultura. A palestra fazia parte de um seminário muito bem organizado pela turma do CPC Aracy de Almeida. Terminado o evento, passei rapidamente pelo centro e ali, perto da Biblioteca Nacional, acenei para o taxista.

O sujeito não parou de falar... Perguntou tudo sobre mim. Quando disse que era de Campinas, próximo a São Paulo, indagou a respeito do clima pesado que acometia a população naqueles dias. O PCC havia prometido outra refrega. A população devia estar desesperada!

- E depois falam que o Rio é violento! – regozijou-se.

Pronto, havia irrompido o assunto que dominaria a cena até minha chegada ao Aeroporto Tom Jobim: Rio versus São Paulo. Não me incomodei porque, diz o bom senso, discutir aquilo seria uma enorme besteira. Ademais, sou apaixonado pelo Rio e por São Paulo.

- É, m' ermão! Depois os paulistas dizem que isso aqui é que é violento!

Meu livro sobre a criminalidade do tráfico carioca e sobre o PCC estava no forno. A despeito disso, não seria conveniente que eu lançasse mão dos argumentos lá contidos para aquela conversa. Ele não entenderia. Deixei que continuasse...

- Isso aqui é uma maravilha! São Paulo não tem tanta coisa boa como no Rio.

Foi nesse momento que resolvi lhe perguntar:

- O senhor seria capaz de apontar cinco coisas boas do Rio de Janeiro?

Ele aceitou a provocação:

- Claro! O Rio é uma cidade linda, maravilhosa. A beleza natural daqui não existe em nenhum lugar do mundo. Essas praias, os morros, o sol... São Paulo não é bonita assim.

Dei-lhe razão, obviamente.

- E a segunda coisa boa?

- Bom... a segunda coisa boa... No Rio tem muita coisa para se fazer de graça. Você pode passear com a sua família em bosques, parques, morros. Também tem as praias. Não precisa de muito dinheiro para se divertir. É tudo barato ou de graça! O Rio é uma cidade democrática!

Daí para o assunto da política foi um pulo. Começou a falar do Lula, do FHC, do Garotinho, do Cesar Maia, da Benedita... Falou dos impostos, da educação, da saúde. Esqueceu as coisas boas do Rio.

Quando chegávamos à Ilha do Governador, não perdoei:

- Até agora o senhor só falou duas coisas boas do Rio. E as outras três? Não eram cinco?

Ele, então, olhou para um lado, para o outro... E, a contragosto, respondeu:

- Pois é: cinco coisas boas do Rio é muita coisa boa! O Rio não tem tanta coisa boa...

É só... Por ora é só...