sábado, 12 de março de 2022

Carva e as drogas

CARVA E AS DROGAS

             Carva viveu intensamente. Excedia-se em tudo. Com as drogas não seria diferente. Quando passou a experimentar a dificuldade material, decidiu adotar uma estratégia para garantir o consumo da droga. Inicialmente, comprava de um fornecedor e pagava à vista. Consumia o que lhe era possível, mas dava um pouco para os amigos saberem que o produto era de qualidade. Quando o dinheiro rareava, ele apresentava aqueles amigos para o fornecedor. Garantia que iriam comprar em grande quantidade. O fornecedor, é claro, viu naquela sistemática uma maneira de ganhar mais dinheiro. Passou a encarar o Carva como um parceiro da mercancia.      A lógica toda ruía quando os amigos também paravam de pagar o fornecedor. Conclusão, de parceiro, o Carva passou a ser perseguido com um traidor.

            Como era insistente e não podia se livrar do vício, Carva imaginou que, se a estratégia dava certo com um fornecedor, daria com outros. Não hesitou em replicar seu modus operandi com as demais bocas de fumo da cidade. Até que a dinâmica se esgotasse com cada um deles, estaria tranquilo. No fundo, ele alternava fornecedores que participavam de facções rivais. Assim, mandava recado a alguns em nome de outros. É óbvio que todo mundo queria a cabeça do meu amigo.

            Agora, o pulo do gato de toda essa odisseia era o fato de que nenhum dos fornecedores conheceu a fuça do Carva. Quando era instado a responder a alguma mensagem, ele colocava uma foto de perfil diferente, geralmente de um desafeto seu. Para cada fornecedor, um rosto. Para cada encrenca, um filho da puta.

            Pelo que fiquei sabendo, o Solda, que era o maior traficante da região, teve um papo reto com o Minhão e lhe deu 24 horas para apresentar o corpo do Carva. Só que ninguém sabe onde está o Minhão. Nem eu.

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