segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Blackout

O curta Blackout, com Wagner Moura e Augusto Madeira, é fantástico. Para quem perdeu a exibição no Canal Brasil, segue o link do vídeo no Youtube. São menos de 10 minutos de diálogos interessantes e inteligentes. Vale a pena!

http://www.youtube.com/watch?v=jPWFLYGyMZs

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Inverossimius: um conto juvenil

Inverossimius: um conto juvenil - Roberto Barbato Jr

Conto publicado no Portal Cronópios em 17/01/2010.

www.cronopios.com.br

Depois que cheguei à adolescência resolvi banir definitivamente determinadas lendas que rondaram minha infância. Aquelas mentiras deslavadas que toda criança ouve, sem mesmo questionar sua veracidade, foram eliminadas da minha imaginação. Se mentir, o nariz cresce, e tantas outras lengalengas não passaram do terreno da fantasia pueril. Mesmo a história da masturbação, punida com o nascimento de pêlos nas mãos, deixou de constituir ameaça de qualquer espécie. Tudo não passava de superstição. Eu estaria disposto a acreditar nisso se não tivesse embarcado numa aventura curiosa.

Na tarde daquela sexta-feira, recebi um telefonema de Netinho. Gargalhei quando ele começou a narrar uma espécie de roteiro de ficção científica. A história toda era tão bem bolada que a ouvi por inteiro. Desconfiado de que por trás daquela narrativa insólita poderia haver algum sentido real, aceitei ir ao encontro que havia reivindicado. O lugar marcado era demasiado longe e, a julgar por sua personalidade preguiçosa, só mesmo um motivo muito sério o faria caminhar até lá. Apenas por essa razão, tive a convicção de que precisava cumprir o acordo feito.

– Eles já vão chegar – disse ansioso, logo que me viu.

Netinho não parava de olhar para o céu, como a insinuar que de lá viriam amigos íntimos. Como nada acontecia, fui bastante enfático ao dizer que toleraria aquelas sandices pelo prazo máximo de quinze minutos. Nada mais que isso.

Pouco tempo se passou para que, perplexos, víssemos algo que só existe nas telas de cinema. Ou, pelo menos, eu acreditava que assim fosse.

Aquele veículo com formas retangulares e pontas afiadas irrompeu no céu ensolarado e foi se aproximando de onde estávamos. As luzes que compunham sua fachada piscavam com tamanha intensidade que nem mesmo os reluzentes raios solares foram capazes de ofuscá-las. Suas cores, bastante variadas, eram dispostas de modo regular, obedecendo a um rigoroso padrão de medida. Também os locais dos frisos colados na aeronave eram milimetricamente planejados.

Quando enfim pousara na Terra, abrira suas portas e alguns homens puseram-se a descer as escadas brilhantes que repentinamente desabaram com volumoso estrondo. Sim, eram homens! Ao contrário do que dominava nossa imaginação, não eram seres deformados, com traços rudimentares, cabeças grandes e a pele verde. Tampouco tinham estatura baixa.

Com sorriso sereno, Dadá, o chefe da tripulação, estranhara minha presença ali. Por certo, imaginara que somente Netinho, anteriormente contatado por meio de sinais radiofônicos, estaria pronto para o embarque. Mesmo assim não se furtou a me convidar, pedindo discrição em relação a tudo que veria no trajeto e em nossa estada em Inverossimius, seu planeta de origem. O convite era irrecusável: ficaríamos por lá durante uma semana. Entretanto, por alguma mágica que jamais conseguiria explicar, seríamos devolvidos à Terra no exato minuto em que partimos.

Durante a viagem não paramos de prestar a atenção no caminho. Tudo era novidade! A cada minuto, percorríamos uma infinidade de galáxias, tamanha a quantidade de planetas que víamos através da janela. Um tanto já cansados, chegamos ao nosso destino. Fomos devidamente hospedados em um luxuoso hotel. Estávamos sem mala, sem roupas para trocar, sem escovas de dentes e sem nenhum outro utensílio necessário para o dia-a-dia. Garantiram-nos que tudo isso seria supérfluo por lá. Bastaria entrar nas câmeras de esterilização para que lográssemos a perfeita higiene. Já era noite e resolvemos dormir.

Ao raiar o dia, na companhia de Dadá, fomos para o salão no qual seria servido o café da manhã. Avistamos uma moça com a pele ruborizada e supusemos que devia estar com alguma alergia. Parecia também envergonhada e manifestava um incômodo sorriso no rosto. Logo Dadá percebeu nossa inquietação e não tardou a explicar:

– Ela acabou de fazer amor.

Não conseguimos entender, até que ele ponderou:

– Aqui, quando as pessoas fazem amor, ficam com o rosto vermelho após o prazer. Depois, tudo volta ao normal.

Havia um inequívoco desconforto naquilo, sobretudo para nós, que éramos adolescentes.

Nossa primeira noite em Inverossimius também prometia novidades. Fomos a uma boate. Netinho ficou impressionado ao notar que as mãos de alguns rapazes eram repletas de pêlos. Mais uma vez Dadá explicou que dificilmente eles ficavam vermelhos, ruborizados como a menina que havíamos visto. O que significaria?

– Eles raramente fazem amor? – perguntei.

– Exatamente – respondeu.

Tivemos a certeza de que a superstição da Terra tinha algum fundamento. A famosa quiromania fazia com que os rapazes assumissem um indesejável aspecto físico. Também era um fenômeno desvantajoso: desprovidos da oportunidade de ter uma parceira, os rapazes fatalmente acabariam por se expor se quisessem lograr o solitário prazer sexual.

Após alguns dias, conhecemos Emília. À exceção do grande nariz, tinha o rosto e o corpo dotado de uma proporcionalidade invejável. Era muito simpática e não raro contava histórias muito interessantes, mas pouco factíveis. Havia tido um caso amoroso com Dadá. Ele nos garantiu que, à época desse relacionamento, seu nariz era belo e pouco proeminente.

– Há quanto tempo vocês estão separados? – perguntou Netinho.

Dadá foi discreto. Daquela vez não explicou nada, só respondeu à pergunta.

– Um nariz não cresce tanto em três meses... – falei.

Compreendemos, enfim, que a menina era uma mentirosa contumaz.

Num noticiário televisivo, vimos um rapaz sendo devorado por seus próprios órgãos. A Defesa Civil havia se encarregado de levá-lo a um lugar isolado, onde deveria ficar até que o processo de autofagia se completasse e a morte lhe sobreviesse. No segundo dia de isolamento, o moleque havia se esvaído.

– Estupro – disse Dadá.

Percebendo nossa perplexidade diante daquele cenário, nosso anfitrião asseverou que os delitos e infrações morais cometidos naquele planeta tinham uma solução natural. Por esse motivo, não havia necessidade de instituições que garantissem a ordem social. Não existia polícia, nem Estado; não existiam leis formuladas pelos homens. Tudo quanto fosse transgressão a normas e costumes locais era punido pela própria natureza. Até mesmo os simples pecados, cometidos entre quatro paredes, eram dignos de repressão natural.

Não conseguimos entender aquele estranho sistema de sanções, nossa capacidade de abstração e nosso universo cultural eram ainda limitados. Tínhamos de prestar vestibular ao final do ano e não nos sobrava tempo para especulações fictícias. Fictícias no nosso planeta, é claro. Onde estávamos, era pura realidade. Lá, nossas lendas eram realidade e a natureza, impiedosa.

Foi difícil assimilar tanta informação e costumes tão díspares. Antes de terminarmos a conversa, Netinho fez uma última pergunta:

– O que acontece com quem não passa no vestibular?

– Ora, essa é uma simples circunstância de insucesso. Aqui vigora o princípio da proporcionalidade: para infrações cruéis, penas pesadas; para delitos ou insucessos leves, sanções sutis. No caso da reprovação do vestibular, a aura do candidato fica parecida com a de um burro até que ele seja aprovado.

Não me contive, gargalhei e fiz também uma pergunta:

– E quem é corneado?

– Ah, isso vocês sabem... Chifres na cabeça! – respondeu sorrindo.

Enfim, chegara o momento da despedida. Voltamos à Terra. Descemos no mesmo lugar e no mesmo momento em que partíramos, exatamente conforme o combinado. Sem a companhia de Netinho, corri para a casa de minha namorada. Estava morto de saudades. Ela abriu a porta com a cara vermelha, ruborizada e com um leve sorriso. Passei as mãos pela minha cabeça...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Bárbara, Boris e a insensatez

Na última sexta-feira (08/01/2010), em sua coluna da Folha de S. Paulo, Bárbara Gância, publicou texto intitulado "Sirvam a cabeça do Boris com batatas!". Parecia evidente seu propósito de tentar minimizar os efeitos da infeliz frase proferida por seu colega Boris Casoy. Para quem não sabe do que se trata, sugiro a leitura do post anterior.

O texto da articulista é eivado de insensatez. Seus argumentos não têm pé, nem cabeça.

Depois de mostrar que tem uma certa familiaridade com os garis e conhece um estudo psicológico sobre eles, Bárbara considera ter legitimidade para fazer ponderações sobre aquilo que Boris chamou de "o mais baixo na escala do trabalho". De pronto, diz aos leitores que essa legitimidade não existe para aqueles que jamais conversaram com garis ou a eles deram alguma atenção.

Logo depois, indaga:

"Mas, vem cá: tem alguma relevância? Muda em um iota todos os anos de excelentes serviços prestados por Boris Casoy ao jornalismo tapuia? É evidente que não".

Qual é a relação entre os (supostos) excelentes serviços prestados por Boris com o comentário que ele fez? O fato de ter prestado tais serviços - supostamente excelentes, repita-se! - não constitui condição suficiente para lhe permitir agredir a classe de garis e nenhuma outra qualquer. Do contrário, bastaria que um homem tivesse uma trajetória profissional com "serviços prestados" para, em certa altura de sua vida, proferir agressões a quem quer que fosse. Isso não tem o menor cabimento.

Continua a articulista:

"Que eu saiba, o lixeiro é mesmo 'o mais baixo na escala do trabalho', como afirmou Boris com desavergonhada crueza. Ou será que algum dalai lama vai ousar me dizer que o posto é ocupado pelos médicos? Um gari e um lixeiro desejando "muito dinheiro" em 2010 é mesmo motivo de riso; não vejo onde esteja o enorme preconceito de que o jornalista foi acusado".

Por que o lixeiro é o "mais baixo na escala do trabalho"? Qual é o critério que o sr. Boris utilizou para aferir aos garis o nível mais raso naquilo que chama de "escala do trabalho"? O que vem a ser essa escala do trabalho? Em que nível estão, por exemplo, o jornalista, o professor e o torneiro mecânico? E o presidente? Por vias tortuosas, a resposta foi dada pela sra Bárbara: os médicos seriam o ápice da tal escala.

Mal sabem Boris e Bárbara que no Rio de Janeiro, em tempos recentes, havia candidatos com curso superior a garis municipais.

A exemplo de Casoy, Bárbara considera motivo de riso os votos de "muito dinheiro" dados pelos garis. Quer dizer que somente gente rica pode desejar muito dinheiro para anos vindouros? Pobre agora nem mesmo poderá desejar? Qual é a lógica disso?

A falta de inteligência da autora também é evidente no trecho que segue:

"Mas, claro, Boris Casoy teve uma rusga pública com Lula e é identificado pela esquerda festiva, emburrada e histérica como sendo um homem de direita. E, portanto, Boris Casoy deve ser atacado a cada oportunidade que se apresente".
Será que somente os adeptos da "esquerda festiva" reputaram nojento o comentário de Boris. De onde Bárbara colheu os dados que, em princípio, afiançariam essa tese absurda?

Alguém poderia explicar qual é a relação do estúpido comentário de Boris Casoy com o fato de ele ser "identificado" como um "homem de direita"? Fosse identificado com a esquerda, poderia proferir despautérios a torto e a direito? Isso lhe facultaria pronunciar-se de maneira leviana, tal como fizera?

Só faltou a articulista recorrer a tendências futebolísticas, religiosas e culturais para tentar justificar a nauseabunda postura de seu colega. Poderia, então, evocar o time para o qual torce para justificar a natureza de suas posturas?

Na absoluta ausência de argumentos sólidos, Bárbara falou o que quis, sem nexo, sem fundamentação. Poderia ter ficado quieta. Optou, todavia, por sair em defesa do colega. Deve ter suas razões para isso. Mas.... bem que poderia caprichar na pena.

Em tempo: aqueles que porventura assistiram ao vídeo dos dois garis desejando um feliz 2010 devem ter percebido o tom de simplicidade, de humildade sincera deles. De minha parte, achei comovente.

Já o sr. Boris Casoy, achou uma merda.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Que vergonha, hein, Boris!

Antes de qualquer coisa, desejo a todos um feliz 2010, com muita saúde, paz, sucesso e felicidades! São votos sinceros, naturalmente....

Não sabia como estrear o blog nesse ano. Começarei da pior forma possível: mostrando a expressão da boçalidade do Sr. Boris Casoy.

No último dia do ano passado, após o Jornal da Band, o âncora histérico fez um comentário abjeto que foi captado pelos microfones da emissora.

Depois de veiculada a exibição da imagem de garis desejando a todos "muita paz, muita saúde, muito trabalho.... Feliz 2010", deixou escapar:

"Que merda... Dois lixeiros desejando felicidades do alto das suas vassouras. Dois lixeiros! O mais baixo da escala do trabalho".

Ato contínuo, alguém gritou "deu pau". Era o aviso de que os pensamentos nojentos do Sr. Casoy foram ouvidos pelos telespectadores do jornal.

Que vergonha, hein, Boris!

Para quem quiser assistir ao vídeo, visite o link abaixo.

http://www.youtube.com/watch?v=Gcaom0cGE6w&NR=1