sábado, 25 de fevereiro de 2012

Bruninha

Ninguém acreditou quando o Maneco chegou e disse que a Bruninha tinha ficado sócia do clube. “Sócia mesmo? De carteirinha e tudo?”, perguntei. Ele, com cara de bobo, respondeu: “Ô. Já tirou até a foto”.

A Bruninha só entrava no clube se alguém lhe tirasse convite. Quando aparecia, todo mundo sabia que ela estava lá, desde a turma do futebol até o tio que limpava as piscinas. Já naquela época, era uma referência. Depois de sócia, então.... Ninguém se deu conta, mas cada um de nós poderia dar de cara com ela em qualquer dia da semana. Já pensou a Bruninha tomando sol na quinta-feira à tarde? Virou rotina....

A Bruninha era a Bruninha porque tinha um ar de maturidade, de mulher.... Não tinha aquela cara pueril das meninas que estavam entrando na puberdade. E ainda por cima namorava um cara mais velho, que tocava guitarra e tinha carro. Os dois viviam se amassando na piscina, sem nenhum pudor. Cada beijo de tremer as pernas. Depois do amasso, ela mordia a orelha dele. A molecada quase morria de inveja e eu me afundava de desgosto. A mordida da Bruninha....

Houve um tempo em que a meninada se ocupou de discutir sobre a virgindade dela. Com aquele jeito maduro, despachado, namorado mais velho com carro, é claro que já tinha ido pra cama com ele. Chegaram até a fazer aposta sobre isso. Virgem ou não, tanto fazia: a Bruninha era a Bruninha.

Eu nunca tinha trocado mais que um oi com ela. Quando me via, devia pensar que eu era um pirralho. Pois um dia, puta que pariu!, ela veio falar comigo. Estava sozinho na cantina do clube vendo o treino de natação e tomando uma coca-cola. Ela passou pela porta e me avistou. Me deu um calafrio daqueles de entortar a espinha. Chegou perto de mim, puxou uma cadeira e perguntou se podia se sentar ali comigo.

Eu sei, quem conheceu a Bruninha não poderia imaginá-la pedindo pra sentar na minha mesa. Mas, eu juro, ela pediu. Foi então que eu vi quem era ela realmente. Putz, a Bruninha nunca foi tão Bruninha quanto naquele dia (pra mim ela já tinha se transformado até em adjetivo).... Ali, diante de mim, a Bruninha sem o namorado. Ficava olhando pra sua boca, o movimento da língua batendo nos dentes. Tudo bem, pode parecer tara, mas a Bruninha tinha uns dentes, uma língua! Ela falava comigo e eu não tinha a menor ideia de como reagir. Na verdade, eu nem a ouvia, de tão atordoado que estava. Só despertei quando ela indagou se eu era irmão da Dorinha. “Dorinha?”, eu perguntei. “É, a Dorinha”, ela disse. “Ah, a Dorinha”, eu falei.

Aí, acreditem, a Bruninha, aquela mulher quase inatingível, me lascou um beijo no rosto e me deu uma piscada de despedida. Eu queria mesmo aquele beijo na boca e aquela mordida que só ela sabia dar. Mas isso eu ainda teria que esperar....

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