domingo, 16 de setembro de 2012

A foto que não era para o Facebook




É uma foto que não era para capa
Era a mera contracara, a face obscura
O retrato da paúra quando o cara
Se prepara para dar a cara a tapa
(Chico Buarque)


Depois que fiz meu perfil no Facebook fiquei na dúvida de qual foto deveria colocar em sua capa. Não sabia qual critério utilizar para a escolha. Vasculhei no arquivo de imagens do computador e achei a vencedora de um pequeno concurso que eu mesmo editei, julguei e dei o veredito. Nada mais simples.

A foto é essa aí, que todos já conhecem. Sou eu, numa noite de tertúlia etílica fumando um charuto. Há, aliás, um vídeo registrado nessa mesma data em que, olhando para a câmera, eu assinalo a “coerência” da camiseta e da procedência do charuto (cubano, é claro). Tratava-se de uma pilhéria.

Pois bem, o charuto não foi observado pela maioria das pessoas que comentaram a foto. O que motivou reações de toda sorte foi a vestimenta. A camiseta usada naquela noite trazia a inscrição: “Uma abelha só não faz pressão”, que é o tema de uma campanha de sindicalização da CUT. Vejam só: eu com uma camiseta de cunho ideológico da CUT!

A bem da verdade, nem me lembro como essa camiseta foi parar em casa. Vendo-a numa gaveta, ainda sem uso, com a malha gostosa, não hesitei: apossei-me dela naquela mesma noite. Jamais imaginei, contudo, que usá-la fosse suscitar tantos questionamentos sobre minha filiação partidária e ideológica. Não estou com ânimo para colocar às escancaras as razões das minhas decepções políticas nos últimos tempos. Assim, para não ferir ainda mais suscetibilidades e ensejar eventuais indagações, optei por trocar a foto do meu perfil no Facebook.

A foto do charuto – ou melhor, da camiseta –, como diria o poeta, “não era para a capa”, era apenas para “dar a cara a tapa”.  


sábado, 1 de setembro de 2012

Minha primeira vez

É difícil falar da experiência da primeira vez. Para muitos, é uma espécie de tabu, de tema proibido ou alguma forma de constrangimento. Eu mesmo, quando decidi escrever sobre o assunto, fiquei inquieto em relação à maneira como iria abordá-lo. Foi difícil vencer a barreira, mas, agora, creio ser o momento ideal para fazer o meu relato.

Todas as pessoas com as quais eu conversava me diziam que a primeira vez é uma experiência única, incapaz de ser traduzida por palavras ou qualquer outro meio de linguagem. Os mais experientes asseveravam aquilo que todos nós sabemos: ninguém nunca esquece a estreia, a famosa primeira vez. Comigo também foi assim. Quando aconteceu, tive alguma dificuldade para formular meu sentimento. 

Feitos esses esclarecimentos, vamos ao relato concreto.

Depois de comer uma maçã (nada mais apropriado para a ocasião do que o fruto proibido), iniciei as preliminares, ou seja, os alongamentos necessários a esse tipo de prática esportiva, se assim podemos chamá-la. Alonguei-me rapidamente e ainda sem ter certeza de que estava pronto para o ato, subi nela de maneira cautelosa. É muito importante ser cuidadoso nesse momento. Em poucos segundos o processo se iniciou. Embaixo de mim, um barulho com volume considerável começou a aumentar até que eu atingisse a velocidade necessária. O corpo principiou a se acostumar com o ritmo dos meus movimentos. De repente, fui instigado a aumentar ainda mais a velocidade daquela movimentação que já me parecia inusual. Alguma coisa dentro de mim anunciou que o processo estava no início. Não fui capaz de mensurar o tempo de sua duração. Estimo, contudo, que depois de meia hora, tenha acontecido o ápice.

Uma sutil sensação de anestesia e uma grande euforia havia tomado conta do meu organismo. Eu queria mais. Todavia, já estava de bom tamanho.... O principal havia acontecido: pela primeira vez na minha vida senti a famosa endorfina tomar meu corpo. Passados alguns minutos, desliguei a esteira e corri para tomar um banho.

A primeira endorfina, acreditem, a gente nunca esquece.