quarta-feira, 30 de julho de 2014

Copa do Mundo de 2014: teorias da conspiração.


O sucesso de divulgação das teorias da conspiração depende menos da plausibilidade de seus postulados do que da convicção daqueles que a professam. Não se tenha dúvidas: é fundamental afirmar categoricamente, insistir no argumento e nunca – nunca mesmo! – recuar. Não importa se a teoria é débil, se existem elos frágeis a compor sua sustentação. Tudo se resolve com a intensidade da crença. Em uma palavra, é preciso ter fé e passá-la adiante.

O que aconteceu com a Copa do Mundo de 2014 não foge à lógica do que ora se alega. Muitos foram os comentários acerca de compra do resultado pelo Brasil. Estamos diante da “teoria da compra da Copa”. A ideia é simples: depois de ter conseguido sediar a Copa em terras nacionais, nossos dirigentes teriam tramado, nas conjuras do futebol internacional, o acordo que daria a taça à seleção brasileira. A trama, evidentemente, incluiria a disposição de alguma cifra milionária. O dinheiro, entretanto, justificaria uma série de benesses para o programa eleitoreiro em curso. Trocando em miúdos, a nossa presidente e seus asseclas, poderiam garantir sua estada no poder a partir do suposto êxito da seleção canarinho.

O espetáculo começou e os defensores dessa teoria se viram cada vez mais convictos e donos da razão. O Brasil estreou ganhando. Contra a Croácia fez 3 a 1. Depois, para que não houvesse desconfiança alguma, resolvera empatar com o México, por zero a zero. Era um abalo planejado e necessário. Conforme os defensores da teoria, a compra da Copa implicava expedientes discretos, daí a necessidade de, ao menos, um empate. Veio, então, o embate com Camarões. Nesse jogo a vitória brasileira teria de acontecer. Do contrário, também haveria desconfiança. 4 a 1 era um placar razoável (leia-se: comprado).

Quartas de final. Felipão alardeou que a vitória não seria fácil e vociferou que o Chile é um grande time. O Brasil teve de disputar a vaga nos pênaltis. Até aqui, tudo como previsto. A próspera seleção campeã ia avançando em consonância com o programa da compra. O próximo adversário era a Colômbia. O Brasil teria de ser moderado. Dois gols no vizinho sul-americano eram suficientes e, para manter o expediente insuspeito, seria bom tomar um gol.
Enfim, era a vez de enfrentarmos a Alemanha. Os baluartes da teoria continuaram fiéis. Até mesmo pela terra de Hegel o Brasil passaria, ainda que tivesse de recorrer novamente aos pênaltis. Se isso acontecesse, não haveria preocupação. Jogadores e goleiro do time germânico já estariam avisados de que teriam de errar. Não foi o que aconteceu. Por motivos que até hoje ninguém sabe quais são, o Brasil foi vítima do tal “apagão”, a maior goleada da história de todas as Copas do Mundo. Uma humilhação  com direito a discursos populistas dos jogadores mais carismáticos.

Pronto! A teoria da compra da Copa do Mundo não havia sido comprovada. Não resistira aos vaticínios feitos. Para que não cedessem totalmente, seus defensores lançaram mão da “teoria da compra parcial da Copa do Mundo”. De acordo com seus pressupostos, o Brasil não poderia, de fato, ter comprado a Copa. Mas não deixaria de garantir um honroso terceiro lugar. As “vozes da razão” foram mais cautelosas: um terceiro lugar se ajustava aos anseios eleitorais daqueles que estão no poder.

O Brasil perdeu da Holanda por três a zero, resultado que fez qualquer brasileiro lembrar a fatídica derrota para a França na final de 1998. Aliás, faça-se parênteses para lembrar que, também naquela Copa, houve teorias da conspiração, sendo, todavia, a França a adquirente do título (a suposta adquirente de má-fé). 

Nem mesmo o terceiro lugar pôde dar lastro à viabilidade da teoria tão propagada nesta Copa. Aqueles que juraram de pés juntos que o Brasil seria campeão tiveram de se conformar que difundiram uma ideia tão inviável quanto estúpida.

Não é só.

Como o brasileiro é inventivo – e sobre isso ninguém ousa discordar –, surgiu recentemente a “teoria da venda da Copa”. Segundo ela, o Brasil teria vendido a Copa do Mundo. Entenda-se.

Tendo comprado a Copa de 2014 – ou seja, o título –, o Brasil resolveu vendê-lo. Qual seria o propósito da negociação? A resposta é simples: sediar a Copa do Mundo de 2022. Vamos à descrição sumária desse sofisticado esquema teórico.

O Brasil deveria avançar o suficiente para se fazer crer que teria condições de ser campeão. No entanto, após o ingresso nas quartas de final teria que abdicar do sonho da taça. Assim, a coluna fraturada de Neymar foi meticulosamente combinada. Zuniga teria recebido orientações – e quiçá dinheiro – para colidir de maneira não responsável com a coluna do craque brasileiro. Neymar também teria recebido seu quinhão para chorar de dor e sair de campo. O executor do plano (não se confunda o papel de Felipão com os mentores intelectuais do esquema) a tudo endossaria. Fred e Hulk também estariam no centro das ações. Pouco talentosos, não seria difícil permanecerem inertes ou desastrados em campo. Dante teria descoberto a falcatrua e mostrara interesse em denunciar a todos. Entretanto, conforme a fantástica teoria, fora ameaçado antes que pudesse fazer alguma coisa. Optara pelo silêncio.

O tal “apagão” ocorreu, portanto, em decorrência de um planejamento traçado pelos beneficiários da teoria da venda da Copa. Como se percebe, o investimento foi grande e só produzirá seus frutos em oito anos.

O importante, agora, é propalar a teoria de modo enfático: em 2022 o Brasil voltará a sediar o maior espetáculo futebolístico do mundo.

O que eu penso disso tudo? Estou com Cony: "Só creio naquilo que possa ser atingido pelo meu cuspe. O resto é cristianismo e pobreza de espírito".