O sucesso de divulgação das teorias da conspiração depende
menos da plausibilidade de seus postulados do que da convicção daqueles que a
professam. Não se tenha dúvidas: é fundamental afirmar categoricamente,
insistir no argumento e nunca – nunca mesmo! – recuar. Não importa se a teoria
é débil, se existem elos frágeis a compor sua sustentação. Tudo se resolve com
a intensidade da crença. Em uma palavra, é preciso ter fé e passá-la adiante.
O que aconteceu com a Copa do Mundo de 2014 não foge à
lógica do que ora se alega. Muitos foram os comentários acerca de compra do
resultado pelo Brasil. Estamos diante da “teoria
da compra da Copa”. A ideia é simples: depois de ter conseguido sediar a
Copa em terras nacionais, nossos dirigentes teriam tramado, nas conjuras do
futebol internacional, o acordo que daria a taça à seleção brasileira. A trama,
evidentemente, incluiria a disposição de alguma cifra milionária. O dinheiro,
entretanto, justificaria uma série de benesses para o programa eleitoreiro em
curso. Trocando em miúdos, a nossa presidente e seus asseclas, poderiam
garantir sua estada no poder a partir do suposto êxito da seleção canarinho.
O espetáculo começou e os defensores dessa teoria se viram
cada vez mais convictos e donos da razão. O Brasil estreou ganhando. Contra a
Croácia fez 3 a 1. Depois, para que não houvesse desconfiança alguma, resolvera
empatar com o México, por zero a zero. Era um abalo planejado e necessário.
Conforme os defensores da teoria, a compra da Copa implicava expedientes
discretos, daí a necessidade de, ao menos, um empate. Veio, então, o embate com
Camarões. Nesse jogo a vitória brasileira teria de acontecer. Do contrário,
também haveria desconfiança. 4 a 1 era um placar razoável (leia-se: comprado).
Quartas de final. Felipão alardeou que a vitória não seria
fácil e vociferou que o Chile é um grande time. O Brasil teve de disputar a
vaga nos pênaltis. Até aqui, tudo como previsto. A próspera seleção campeã ia
avançando em consonância com o programa da compra. O próximo adversário era a
Colômbia. O Brasil teria de ser moderado. Dois gols no vizinho sul-americano
eram suficientes e, para manter o expediente insuspeito, seria bom tomar um
gol.
Enfim, era a vez de enfrentarmos a Alemanha. Os baluartes da
teoria continuaram fiéis. Até mesmo pela terra de Hegel o Brasil passaria,
ainda que tivesse de recorrer novamente aos pênaltis. Se isso acontecesse, não
haveria preocupação. Jogadores e goleiro do time germânico já estariam avisados
de que teriam de errar. Não foi o que aconteceu. Por motivos que até hoje
ninguém sabe quais são, o Brasil foi vítima do tal “apagão”, a maior goleada da
história de todas as Copas do Mundo. Uma humilhação com direito a discursos populistas dos
jogadores mais carismáticos.
Pronto! A teoria da compra da Copa do Mundo não havia sido
comprovada. Não resistira aos vaticínios feitos. Para que não cedessem
totalmente, seus defensores lançaram mão da “teoria da compra parcial da Copa do Mundo”. De acordo com seus
pressupostos, o Brasil não poderia, de fato, ter comprado a Copa. Mas não
deixaria de garantir um honroso terceiro lugar. As “vozes da razão” foram mais
cautelosas: um terceiro lugar se ajustava aos anseios eleitorais daqueles que
estão no poder.
O Brasil perdeu da Holanda por três a zero, resultado que
fez qualquer brasileiro lembrar a fatídica derrota para a França na final de
1998. Aliás, faça-se parênteses para lembrar que, também naquela Copa, houve
teorias da conspiração, sendo, todavia, a França a adquirente do título (a
suposta adquirente de má-fé).
Nem mesmo o terceiro lugar pôde dar lastro à viabilidade da
teoria tão propagada nesta Copa. Aqueles que juraram de pés juntos que o Brasil
seria campeão tiveram de se conformar que difundiram uma ideia tão inviável
quanto estúpida.
Não é só.
Como o brasileiro é inventivo – e sobre isso ninguém ousa
discordar –, surgiu recentemente a “teoria
da venda da Copa”. Segundo ela, o Brasil teria vendido a Copa do Mundo.
Entenda-se.
Tendo comprado a Copa de 2014 – ou seja, o título –, o
Brasil resolveu vendê-lo. Qual seria o propósito da negociação? A resposta é
simples: sediar a Copa do Mundo de 2022. Vamos à descrição sumária desse
sofisticado esquema teórico.
O Brasil deveria avançar o suficiente para se fazer crer que
teria condições de ser campeão. No entanto, após o ingresso nas quartas de
final teria que abdicar do sonho da taça. Assim, a coluna fraturada de Neymar
foi meticulosamente combinada. Zuniga teria recebido orientações – e quiçá
dinheiro – para colidir de maneira não responsável com a coluna do craque
brasileiro. Neymar também teria recebido seu quinhão para chorar de dor e sair
de campo. O executor do plano (não se confunda o papel de Felipão com os
mentores intelectuais do esquema) a tudo endossaria. Fred e Hulk também
estariam no centro das ações. Pouco talentosos, não seria difícil permanecerem
inertes ou desastrados em campo. Dante teria descoberto a falcatrua e mostrara
interesse em denunciar a todos. Entretanto, conforme a fantástica teoria, fora
ameaçado antes que pudesse fazer alguma coisa. Optara pelo silêncio.
O tal “apagão” ocorreu, portanto, em decorrência de um
planejamento traçado pelos beneficiários da teoria da venda da Copa. Como se
percebe, o investimento foi grande e só produzirá seus frutos em oito anos.
O importante, agora, é propalar a teoria de modo enfático: em 2022 o Brasil voltará a sediar o maior espetáculo futebolístico do mundo.
O que eu penso disso tudo? Estou com Cony: "Só
creio naquilo que possa ser atingido pelo meu cuspe. O resto é cristianismo e
pobreza de espírito".
Link relacionado: http://lapisimpreciso.blogspot.com.br/2010/06/copas-do-mundo.html
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