sábado, 28 de novembro de 2009

Luiz Inácio

Já não sei quantas vezes disse que não falaria de política aqui. Também não sei quantas vezes descumpri minha promessa.

Tem causado algum desconforto aos raros leitores desse blog minhas indignações com o Sr. Luiz Inácio. Há pouco cheguei a compará-lo com Collor. Ocorre, todavia, que a comparação não se referia a eventuais méritos do governo de cada um. Apenas quis assinalar que tanto quanto Collor, Luiz Inácio se revelou um engodo político. Mostrou-se entretanto mais hábil, já que, movido por seu populismo nada ordinário, arrebanhou votos suficientes para se eleger em dois pleitos eleitorais.

Luiz Inácio é o carisma em pessoa. Analisando suas condutas, seu proceder político e a relação com seus eleitores, se vivo fosse, Weber talvez se visse tentado a reformular sua teoria sobre a dominação carismática. Meu amigo Mazeu tem razão: se Luiz Inácio "espirrar, eis o terceiro mandato".

Não estou com birra do nosso barbudo. Estou mesmo é decepcionado! Conforme já assinalei, sempre votei nele. Ainda moleque, em 1989, comprei a ilusão de que o voto no PT representava o rompimento com as mazelas do nosso passado, com o latifúndio brasileiro, com as práticas patrimonialistas e etc. Acreditava que haveria, ao menos, a moralização da máquina pública.

Acompanhado de minha mãe, fui de estrela vermelha no peito votar. Em tom irônico, antes de entrar na sala de votação, ela fez uma pilhéria antipetista. Se o barbudo ganhasse, teria de dividir minha guitarra com mais três meninos. Era brincadeira, naturalmente. E nós sabíamos que o teor daquela brincadeira era sério para muita gente. O medo de um governo comunista existia, acreditem. Hoje, a mesma brincadeira não passaria de piada de mau gosto. Lula, comunista? Socialista?

O tempo passou. Confesso que fiquei emocionado quando de sua primeira eleição, em 2002. Naquela data, liguei para um amigo antipetista. Ele não estava em casa. Deixei a seguinte mensagem na secretária eletrônica dele: "Vem ver de perto uma cidade a cantar a evolução da liberdade". O problema é que não me dei conta de que o título do verso citado (Vai passar) traduziria a história dos próximos anos no Brasil. Toda aquela euforia passaria. E passou!

Hoje me pergunto onde está a evolução da liberdade. Pergunto-me, sem cessar, onde estão as três refeições que o Sr Luiz Inácio disse que propiciaria ao povo brasileiro antes do término de seu primeiro mandato. Ainda embriagado de sonhos ingênuos, cheguei a acreditar nessa promessa impossível. A que ponto eu havia chegado!

Pergunto-me, também, por que Luiz Inácio nunca soube da participação de seu partido no maior esquema de corrupção já verificado nos meandros do poder brasileiro. Mais: pergunto-me se seria possível não sabê-lo. Mas isso não é tudo. O pior foi ter ouvido que "ninguém neste país tem mais autoridade moral e ética" do que o PT.

Onde estaria, então, a diferença entre o PT e os demais partidos brasileiros? Talvez minha miopia não me deixe perceber se ainda há alguma diferença. Se houver, sei que é pequena, mínima, muito restrita.

E pensar que já briguei tanto, com tanta gente, para defender tanto o PT como o Sr. Luiz Inácio....

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Ainda sou brasileiro?

Terminei meu último post com a frase "eu também já fui ingênuo". Logo depois de redigi-la, lembrei-me do poema do Drummond "Também já fui brasileiro".

Para aqueles que o conhecem, espero que entendam a razão desse post. Para os que não o conhecem, ei-lo abaixo. Garanto que vale a pena ler.


Tambem já fui brasileiro

Eu também já fui brasileiro
Moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
e aprendi na mesa dos bares
que o nacionalismo é uma virtude
Mas há uma hora em que os bares se fecham
e todas as virtudes se negam.
Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para mulher,
pensava logo nas estrelas
e outros substantivos celestes.
Mas eram tantas, o céu tamanho,
minha poesia perturbou-se.
Eu também já tive meu ritmo.
Fazia isto, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam,
meus inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava
satisfeito de ter meu ritmo.
Mas acabei confundindo tudo.
Hoje não deslizo mais não,
não sou irónico mais não,
não tenho ritmo mais não.

Carlos Drummond de Andrade - Alguma poesia (1930)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Ingenuidade

Acabei de ver no Canal Livre (TV Bandeirantes) uma imagem datada de 1989.

No famoso debate do segundo turno das eleições presidenciais, Collor vociferava, agitava os punhos, franzia a testa e falava convictamente sobre as idéias que tinha para mudar o Brasil. Só os ingênuos não conseguiram perceber a ilusão e a fragilidade de seu discurso. Eram tão evidentes! E, no entanto, Collor foi eleito.

Hoje, depois de vinte anos, me pergunto como seu antigo adversário conseguiu a mesma proeza duas vezes. E o pior: com a minha ajuda!

Pois é.... Eu também já fui ingênuo!