Terminei meu último post com a frase "eu também já fui ingênuo". Logo depois de redigi-la, lembrei-me do poema do Drummond "Também já fui brasileiro".
Para aqueles que o conhecem, espero que entendam a razão desse post. Para os que não o conhecem, ei-lo abaixo. Garanto que vale a pena ler.
Tambem já fui brasileiro
Eu também já fui brasileiro
Moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
e aprendi na mesa dos bares
que o nacionalismo é uma virtude
Mas há uma hora em que os bares se fecham
e todas as virtudes se negam.
Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para mulher,
pensava logo nas estrelas
e outros substantivos celestes.
Mas eram tantas, o céu tamanho,
minha poesia perturbou-se.
Eu também já tive meu ritmo.
Fazia isto, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam,
meus inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava
satisfeito de ter meu ritmo.
Mas acabei confundindo tudo.
Hoje não deslizo mais não,
não sou irónico mais não,
não tenho ritmo mais não.
Carlos Drummond de Andrade - Alguma poesia (1930)
Um comentário:
É... esperar o que de conversa de boteco, em que a maior virtude é beber sem passar mal?
Sim, é vc sim! Vc e esses teus amigos e fantasmas. Aqueles bares e outros tantos mais. Sem falar nas tais bibliotecas - templos diabólicos, arquiteturas homeopáticas da loucura e da perdição.
Agora vai apelar para quem? Diz aí, sabichão! Miscigenação, sincretismo, Macunaíma, Sérgio Buarque, gilbertianamente de tudo que é nego torto, do mangue, do cais, do porto. Quem? Barbato, quem vai pagar outra cachaça pra gente continuar a arrotar brasilidades etílicas? Ultimamente o meu mastercard anda estourado.
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