sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Tipo assim: Chico


Sempre tive aversão à expressão “tipo assim”, embora soubesse que ela é bastante útil, já que capaz de ser usada em várias situações, como se fosse uma expressão coringa. “Tipo assim” dá a ideia de que algo pode ser explicado por seu exemplo, o que, segundo entendo, é conduta temerária. Exemplos servem para ilustrar e jamais para explicar o que quer que seja.

Quando um aluno me dizia “Professor, é tipo assim”, eu logo o interrompia para avisá-lo que “tipo assim” não existe. Existe, sim, uma espécie, uma modalidade, um gênero, uma semelhança com algo. Alguns usuários da expressão são, todavia, econômicos: não usam o “assim”. Limitam-se ao “tipo”.

Com o passar do tempo, a expressão começou a me incomodar. Achava que seus usuários eram desprovidos de vocabulário suficiente para se expressar. Falar “tipo” ou “tipo assim” era, ao menos para mim, uma tentativa de suprir a incapacidade de verbalização.

Recentemente, quando tomei conhecimento de uma das belas canções do novo CD do Chico, “Tipo um baião” (Biscoito Fino, 2011), fiquei meio estarrecido. Não queria acreditar que o poeta tivesse feito aquilo.

Veja-se alguns trechos da música:

“Porém você
Diz que está tipo a fim
De se jogar de cara num romance assim
Tipo para a vida inteira
(....)
Você vem para enfeitar minha vida
Diz que será
Tipo festa sem fim
(....)
Porém você tipo me adora mesmo assim
Meio mané, por fora
(....)
Igual que nem
Fole de acordeão
Tipo assim num baião
Do Gonzaga

Suprimir ou substituir o “tipo” na letra da música, sem comprometer seu conteúdo, é possível, não é? Mas é aí que reside a graça da composição: mostrar que o “tipo” é perfeitamente dispensável. Ao enfatizá-lo – colocando-o, inclusive, no título da música – Chico talvez tenha chamado a atenção para sua desnecessidade, malgrado seja utilizado por tanta gente.

A música mexeu comigo. Depois de tanto apreciá-la – e, sobretudo ouvir Beatriz cantá-la com absoluta intimidade - já me flagrei falando “tipo” algumas vezes. Acho que é, tipo assim, culpa do Chico.