Juliana e Carva, Carva e Juliana
Juliana veio de baixa extração social
e provou que elegância nem sempre está atrelada ao dinheiro. É uma mulher
incrível, linda, elegante em tudo, nas vestes, nos gestos, nas falas. Não sei
como o Carva conseguiu se casar com ela. Sabe essas pessoas que não foram
feitas umas para as outras? Pois é: Carva e Juliana, Juliana e Carva. Quando
soube que iam se casar, eu já era apaixonado por ela. Já havia tentado, de
todas as formas, conquistá-la. Fiz de tudo, de oferta de rosas a declarações de
amor que o mais sensível dos homens jamais faria.
Todas as suspeitas de que ela
apanhava do marido eram infundadas ou, pelo menos, nunca encontraram eco em
provas. Resumiam-se a ilações decorrentes do uso constante de óculos escuros.
Havia, contudo, uma explicação lógica para isso: Juliana tinha olhos
claríssimos – lindos! – e sofria com fotofobia. Daí por que o uso de lentes
escuras seria sempre um expediente para se sentir confortável. Nada mais
natural...
Jamais acreditei que aquela mulher
fosse capaz de matar alguém. Ainda que não gostasse do marido, não teria índole
para cometer uma atrocidade daquelas. Sabe-se que ela tinha conhecimento das
puladas de cerca dele. Tinha ciência do affair entre ele e Murilo e não ficou
surpresa ao saber que tivera uma temporada ao lado de Luize. Mas, em nenhum
momento, demonstrou qualquer ponta de ciúme. Manteve-se tranquila, como se não soubesse de nada. Não
sei se por elegância ou por hipocrisia, preferiu assumir o papel de mulher
resignada.
Pois o único motivo que poderia fazer
com que Juliana encomendasse a morte do Carva seria o desejo de apossar-se do
dinheiro que ele havia remetido para Genebra. Eram milhões. Ele não fazia ideia
de que a esposa sabia dos estratagemas que garantiam o produto de suas condutas não
republicanas. Tinha a senha das contas suíças e o contato dos doleiros que
engendravam as operações a cabo amiúde realizadas pelo marido. A cada
negociata, acompanhava o crescimento do patrimônio do casal, conferindo o valor
de cada aplicação estrangeira.
Além de linda, Juliana era
inteligentíssima. E muito, muito discreta.
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