domingo, 17 de agosto de 2008

Buenos Aires

Em julho de 1998, época de Copa do Mundo, fomos parar em Buenos Aires. Chegamos lá no dia em que o Brasil jogava contra o Chile. Almoçando na Galleria Pacífico, na Florida, notamos que os argentinos torciam para a seleção do Zagallo. Portanto, embora em terras estrangeiras, o clima era bastante amistoso e havia alguma deferência quando algum portenho percebia que éramos brasileiros.

- Ronaldinho? – perguntavam com o sorriso na cara.

- Sim, Ronaldinho! – respondíamos. Aquele que não ganharia a malfadada final contra a França.

Abstraímos o clima da Copa para aproveitar a cidade. Conhecemos as construções históricas e um pouco daquela nação que, embora bem próxima, parece-nos tão distante.

O clima começou a ficar pesado quando soubemos que a Argentina enfrentaria a Inglaterra. Seria um jogo histórico! Não era possível: reviveriam os tempos da Guerra das Malvinas? A velha rivalidade voltaria depois de tanto tempo? O confronto seria violento? Seria seguro passear naquele dia pelas ruas de Buenos Aires?

Para evitar problemas, o combinado era o seguinte: almoçaríamos na Ricolleta, passearíamos um pouco e, na hora do jogo, voltaríamos para o hotel.

Almoço terminado, passamos pelo Museu Nacional de Belas Artes. Em frente à embaixada brasileira, demo-nos conta de que o jogo já havia começado. Salvo equívoco, nos primeiros minutos, a Argentina marcou um gol. E agora? Melhor seria tomar um café e, depois, voltar para o hotel.

Entramos no Café Cristopher, localizado logo no início da Nove de Julho, quase no limite com a Ricolleta. Enquanto acompanhavam o jogo, os argentinos não moviam um músculo sequer. A tensão era enorme. Todos ali olhavam para as televisões afixadas nos cantos do salão.

Pênalti! Pênalti para a Inglaterra!

- Se marcarem o gol, a coisa vai ficar feia! – pensei rapidamente.

Desavisado, parei em frente a uma TV para ver a cobrança da penalidade. Não percebi que estava obstruindo a visão de algum torcedor fanático. Para piorar, desejosa de logo se sentar, ela me cutucava enquanto o jogador inglês se preparava para chutar a bola. Sem se dar conta da gravidade da situação, me dizia sussurrando:

- Vai, vai, no canto, no canto....

Pensei que fosse apanhar, sobretudo depois que o gol foi marcado. E, justamente, no canto!

É só.... Por ora é só....

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

O reencontro de Brás Cubas e Marcela

Cenas da Literatura III: O reencontro de Brás Cubas e Marcela

São fantásticos os desatinos cometidos por Brás Cubas por causa de Marcela. Mais fantástico ainda é o reencontro com ela, anos depois da paixão juvenil. Marcela, já velha, decadente, por trás do balcão sugere que o tempo é mesmo implacável. Seguem abaixo dois trechos: aquele que inicia a narrativa sobre a personagem do romance e o momento do reencontro. Vale a pena ler.

"Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis, nada menos. Meu pai, logo que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias de um capricho juvenil".

"Ao fundo, por trás do balcão, estava sentada uma mulher, cujo rosto amarelo e bexiguento não se destacava logo, à primeira vista; mas logo que se destacava era um espetáculo curioso. Não podia ter sido feia; ao contrário, via-se que fora bonita, e não pouco bonita; mas a doença e uma velhice precoce destruía-lhe a flor das graças. As bexigas tinham sido terríveis; os sinais, grandes e muitos, faziam saliências e encarnas, declives e aclives, e davam uma sensação de lixa grossa, enormemente grossa. Eram os olhos a melhor parte do vulto, e aliás tinham uma expressão singular e repugnante, que mudou, entretanto, logo que eu comecei a falar. Quanto ao cabelo, estava ruço e quase tão poento como os portais da loja. Num dos dedos da mão esquerda fulgia-lhe um diamante. Crê-lo-eis, pósteros? Essa mulher era Marcela".

(ASSIS, Machado. Memórias póstumas de Brás Cubas. Porto Alegre: L&PM, 1997, p. 48 e 80-81 respectivamente).

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

O gênio e o borra-botas

John Lennon e Tom Jobim morreram no dia 08/12. O primeiro em 1980 e o segundo, em 1994. Um dia, disse isso a um amigo. E ainda completei, exagerando:

- A diferença é que um era gênio e o outro, um borra-botas.

Para me provocar, ele perguntou:

- Quem era o gênio?

Quase bati no meu amigo!

Que ninguém ouse me escrever para fazer a mesma pergunta!

É só.... Por ora é só....