Cenas da Literatura III: O reencontro de Brás Cubas e Marcela
São fantásticos os desatinos cometidos por Brás Cubas por causa de Marcela. Mais fantástico ainda é o reencontro com ela, anos depois da paixão juvenil. Marcela, já velha, decadente, por trás do balcão sugere que o tempo é mesmo implacável. Seguem abaixo dois trechos: aquele que inicia a narrativa sobre a personagem do romance e o momento do reencontro. Vale a pena ler.
"Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis, nada menos. Meu pai, logo que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias de um capricho juvenil".
"Ao fundo, por trás do balcão, estava sentada uma mulher, cujo rosto amarelo e bexiguento não se destacava logo, à primeira vista; mas logo que se destacava era um espetáculo curioso. Não podia ter sido feia; ao contrário, via-se que fora bonita, e não pouco bonita; mas a doença e uma velhice precoce destruía-lhe a flor das graças. As bexigas tinham sido terríveis; os sinais, grandes e muitos, faziam saliências e encarnas, declives e aclives, e davam uma sensação de lixa grossa, enormemente grossa. Eram os olhos a melhor parte do vulto, e aliás tinham uma expressão singular e repugnante, que mudou, entretanto, logo que eu comecei a falar. Quanto ao cabelo, estava ruço e quase tão poento como os portais da loja. Num dos dedos da mão esquerda fulgia-lhe um diamante. Crê-lo-eis, pósteros? Essa mulher era Marcela".
(ASSIS, Machado. Memórias póstumas de Brás Cubas. Porto Alegre: L&PM, 1997, p. 48 e 80-81 respectivamente).
2 comentários:
Cruel esse tempo que nos destrói a flor das graças, não?!?
Belo post.
Qual capítulo é esse?
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