Em julho de 1998, época de Copa do Mundo, fomos parar em Buenos Aires. Chegamos lá no dia em que o Brasil jogava contra o Chile. Almoçando na Galleria Pacífico, na Florida, notamos que os argentinos torciam para a seleção do Zagallo. Portanto, embora em terras estrangeiras, o clima era bastante amistoso e havia alguma deferência quando algum portenho percebia que éramos brasileiros.
- Ronaldinho? – perguntavam com o sorriso na cara.
- Sim, Ronaldinho! – respondíamos. Aquele que não ganharia a malfadada final contra a França.
Abstraímos o clima da Copa para aproveitar a cidade. Conhecemos as construções históricas e um pouco daquela nação que, embora bem próxima, parece-nos tão distante.
O clima começou a ficar pesado quando soubemos que a Argentina enfrentaria a Inglaterra. Seria um jogo histórico! Não era possível: reviveriam os tempos da Guerra das Malvinas? A velha rivalidade voltaria depois de tanto tempo? O confronto seria violento? Seria seguro passear naquele dia pelas ruas de Buenos Aires?
Para evitar problemas, o combinado era o seguinte: almoçaríamos na Ricolleta, passearíamos um pouco e, na hora do jogo, voltaríamos para o hotel.
Almoço terminado, passamos pelo Museu Nacional de Belas Artes. Em frente à embaixada brasileira, demo-nos conta de que o jogo já havia começado. Salvo equívoco, nos primeiros minutos, a Argentina marcou um gol. E agora? Melhor seria tomar um café e, depois, voltar para o hotel.
Entramos no Café Cristopher, localizado logo no início da Nove de Julho, quase no limite com a Ricolleta. Enquanto acompanhavam o jogo, os argentinos não moviam um músculo sequer. A tensão era enorme. Todos ali olhavam para as televisões afixadas nos cantos do salão.
Pênalti! Pênalti para a Inglaterra!
- Se marcarem o gol, a coisa vai ficar feia! – pensei rapidamente.
Desavisado, parei em frente a uma TV para ver a cobrança da penalidade. Não percebi que estava obstruindo a visão de algum torcedor fanático. Para piorar, desejosa de logo se sentar, ela me cutucava enquanto o jogador inglês se preparava para chutar a bola. Sem se dar conta da gravidade da situação, me dizia sussurrando:
- Vai, vai, no canto, no canto....
Pensei que fosse apanhar, sobretudo depois que o gol foi marcado. E, justamente, no canto!
É só.... Por ora é só....
Nenhum comentário:
Postar um comentário