domingo, 29 de agosto de 2010

O fim do mundo e o século XXI

"Até disseram que o sol ia nascer antes da madrugada" (Assis Valente)

Desde sempre ouvi falar sobre a passagem para o século XXI. O ano 2000 era amiúde comentado na minha infância e, cada vez mais, parecia mais distante. Eram inúmeras as previsões que se faziam a respeito do que existiria, do que deixaria de existir. Especulava-se muito e com grandes expectativas.

Talvez não andássemos mais de carros, mas sim com pequenos veículos voadores, tais como aqueles que víamos nos desenhos dos Jetsons, da Hanna Barbera. A lua não seria mais um satélite inatingível, mas um lugar de veraneio para os mais abonados, entre os quais, naturalmente, eu não me incluía. A bem da verdade, ao contrário dos meus amigos, nunca tive interesse em ir para lá.

A fantasia do século XXI perdeu algum espaço na minha cabeça quando houve um diz-que-diz-que profetizando o fim do mundo em setembro de 1999. Algum lunático não se furtou a expor sua teoria numa noite de domingo, no Fantástico. Segundo ele, um meteoro gigante colidiria com a Terra e nada sobraria. Ainda moleque, passei a me preocupar com a impossibilidade de viver os anos dois mil. Fiz as contas de qual idade teria quando fosse acometido pela grande catástrofe. Morreria antes dos trinta. Que sacanagem....

Pouco tempo depois, a idéia de que o fim do mundo se daria mediante uma hecatombe nuclear passou a acompanhar minhas preocupações. The day after, datado de 1983, seguramente meteu muito medo na cabeça dos desavisados, sobretudo das crianças. O cogumelo nuclear, devastando tudo o que encontrasse, passou a ser o grande vilão da história. Sobrariam apenas baratas e, a exemplo da fruição dos humanos na lua, apenas uns poucos mortais poderiam se refugiar nos abrigos profetizados no filme.

Veio o ano 2000 e, como diz a música, "o tal do mundo não se acabou". Depois da meia-noite de 2001 parei em frente à TV e achei que estivesse bêbado: a Globo passava 2001: uma odisséia no espaço, do grande Kubrick. Perguntei-me onde estaria aquela realidade prometida e me dei conta de que a noção do tempo é realmente insidiosa.

Recentemente, Stephen Hawking asseverou que o destino da humanidade está fora da Terra. "Eu vejo grandes perigos para a raça humana". Disse que a solução consiste em "evacuar o planeta e se espalhar pelo espaço". (Folha de S. Paulo – 10/08/2010).

Agora que já passei dos trinta, que nada daquilo que foi dito e vaticinado não aconteceu, não quero sair da Terra. Quero ver o mundo se acabar, de uma vez só. Sem poupar ninguém, nem as baratas.

sábado, 14 de agosto de 2010

Ponto e vírgula

Língua brasileira 8

Comecei a ler Os espiões, do Veríssimo (editora Alfaguara). Nele, há um personagem fantástico (professor Fortuna), cujas características não pretendo descrever para não estragar o prazer da leitura daquele que se interessar pela obra. Abaixo reproduzo um pequeno trecho com sua posição sobre o uso do ponto e vírgula.

"- Qual é a sua posição sobre a vírgula, professor?
E ele:
- Sou contra!
Tese do professor: vírgula qualquer um põe onde quiser. O verdadeiro teste para um escritor é o ponto e vírgula, que, segundo ele, até hoje ninguém soube como usar".

VERÍSSIMO, Luis Fernando. Os espiões. Rio de Janeiro: Alfaguara/Objetiva, 2009, p. 13.

sábado, 7 de agosto de 2010

O mesmo



Língua brasileira 7

Tanto quanto o gerundismo, o uso do "mesmo" é uma praga. A título de mera curiosidade, veja-se alguns exemplos:

- Recado da professora: "Por favor, avisem os alunos que o texto já está disponível no xerox. Todos devem levar o mesmo para a aula de amanhã"

Perguta-se: quem é o mesmo? O xerox ou o texto? É claro que é o texto, mas....

- Uma sentença judicial: "o processo versa sobre acidente ocorrido na rodovia, nas proximidades deste município, tendo o mesmo ocorrido por ter o acusado perdido o controle do veículo em razão do cansaço apresentado pelo mesmo"

Que tristeza! E o nobre redator do texto é Juiz!

- O técnico da eletrônica: "A televisão está quebrada. A mesma precisa ser trocada ou consertada".

Não sei como o "mesmo" ganhou tanta notoriedade. Mas imagino que algo simples tenha contribuído para sua divulgação: a Lei nº 9.502/97. O texto dela é bastante conhecido: "Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado no andar".

Por constar de lei, o texto deve ter levado os usuários de elevador (o mesmo) a acreditar que sua redação corresponde à forma culta da língua portuguesa. Ou seja, o texto de lei, criado por algum incauto, serviu para legitimar mais uma moda da nossa "inculta e bela".

Nem tudo está perdido, entretanto. Há algum tempo, uma aluna, cansada de me ouvir reclamar do "mesmo", me mandou um e-mail com uma foto de um elevador. O título do e-mail era "Viva la Revolución!". De fato, trata-se de uma revolução.

Apreciem a foto!