sábado, 28 de janeiro de 2012

Tio Harlan 6: a primeira vez

Tio Harlan 6: a primeira vez - Roberto Barbato Jr

Quando o tio Harlan assistiu “A Dama das Camélias”, ficou extasiado. Ele ainda era criança, mas sua sexualidade já despertava. Nem bem terminou o filme – cuja versão era a antiga, com a Greta Garbo – queria saber exatamente o que fazia a protagonista do filme. Minha avó, com muito jeito, teve de lhe explicar que se tratava de uma cortesã. Desde então, o tio Harlan passou a sonhar que sua primeira vez fosse com uma cortesã, à moda dos romances do Oitocentos. Era uma tara que ele tinha. Imaginava que somente uma cortesã poderia iniciá-lo no mundo do sexo.

Como cortesãs no Brasil do século XX não existiam, o tio Harlan, com todo seu despojamento, ajustou sua fantasia para os tempos hodiernos. Passou a imaginar que sua iniciação sexual se daria com a governanta da família, a quem todos atribuíam injustamente algum affaire com meu avô. A mulher era uma quase cinquentona, bem conservada e gostosona. Na cabeça do meu tio, os dois iriam copular na suíte paterna, na cama do vovô, com direito a uma champanhe e tudo o mais.

Os sonhos do tio Harlan até que se realizaram, mas de uma maneira oblíqua.... Não houve suíte, champanhe, nem nada. Tudo aconteceu na sala de jantar da casa do vovô. E também não foi com a governanta. Foi com sua filha.

A menina, vez por outra, aparecia lá na casa dele com o pretexto de pedir dinheiro para a mãe. Um dia, o viu estudando matemática de cara amarrada e sacou a oportunidade: a fim de incentivá-lo, disse que poderia estudar com ele. Argumentou que era uma sumidade em ciências exatas.

É claro que meu tio desconfiou que pudesse ser vítima de um golpe. De todo modo, topou a parada. Estudos iniciados, a menina não tardou a se insinuar. Tio Harlan, excitadão, se fazia de desentendido. A menina, abusada, tirava os sapatos e, embaixo da mesa, sem que ninguém pudesse sequer suspeitar, passava os pés nas pernas dele. Na segunda tarde de estudos, avançou o sinal: chegou com os pés perto do pau dele. Na terceira tarde, a coisa descambou. Percebendo que o rapaz tinha uma conduta hesitante, sentou-se em seu colo e o beijou desesperadamente. O tio Harlan foi roçado, lambido, chupado e, segundo ele conta, foi violentado.

Depois daquela tarde, já sabedor do prazer carnal, queria comer a menina todos os dias. O estudo da matemática era o pretexto ideal para consumar seus desejos sexuais. Por longo tempo, se passou por um menino estudioso e meu avô chegou a achar que se ele continuasse naquela toada, seria um grande matemático, um engenheiro ou um físico de renome. Só tomou conhecimento de sua ignorância quando viu no boletim a nota bimestral de matemática: dois e meio. O gênio tirou dois e meio. Sem a ajuda da menina, é óbvio.

Temeroso com o futuro do filho, meu avô cortou os "estudos" de matemática. Que o menino se arrumasse com a punheta! Aí, sem opção nenhuma, o Tio Harlan virou punheteiro. E ainda teve de recuperar a nota bimestral.

Recentemente, recebi um e-mail dele, dizendo que assistiu a versão d’ “A Dama das Camélias” com a Greta Scacchi e ficou fascinado. Com alguma reserva, me confidenciou que ainda sonha com uma cortesã. Grande tio Harlan....

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