Nunca li nada sobre as lutas do UFC, não sei suas regras e só vi uma única – repito: única - cena do esporte. Foi precisamente o momento em que Anderson Silva derrotou Yushim Okami, no Rio de Janeiro em 2011 (clique aqui para ver o vídeo).
Por várias vezes ouvi comentários de que o MMA se tornaria – como de fato se tornou – um esporte de grande evidência, capaz de merecer significativa atenção por meio dos canais televisivos. Até pouco tempo atrás, se não me engano, a transmissão das lutas era exclusiva dos canais da TV a cabo. Recentemente, dado o grande sucesso que obtiveram, tais lutas foram alçadas à categoria de esporte popular e televisionadas pela TV aberta. Ok, um esporte que ascende de modo célere e conquista admiradores em todo país é merecedor de nota.
A Rede Globo transmitiu, na madrugada de hoje, alguns embates. Não tive interesse em assistir. Mas não fui dormir sem a inquietação que ocupa minha atenção desde que vi a vitória do Anderson: o MMA é mesmo um esporte ou se afigura uma prática selvagem de diversão?
Se levarmos a definição de esporte ao pé da letra (vide Houaiss), não teremos dúvidas de que aquelas lutas não se diferem de muitas práticas esportivas, algumas aceitas até mesmo como olímpicas. Em suma, de um ponto de vista estrito, não há dúvidas de que esses embates corporais sejam um esporte.
Conviria, contudo, indagar se esse “esporte” não está sobremaneira amparado no espetáculo sádico que proporciona aos seus fãs. Tomemos como exemplo a circunstância sumariamente descrita no início desse texto. Depois de nocautear seu adversário, o simpático Anderson Silva, continuou a espancá-lo. Deu-lhe vários socos sucessivos na cabeça (na cabeça!) enquanto, prostrado, seu adversário tentava armar alguma proteção. Após o juiz ter decretado o fim da luta, o campeão, com justiça, comemorou: deu voltas pelo ringue (que hoje se chama octógono, segundo me informaram), subiu na rede de proteção que determina o limite territorial da luta, levantou os braços, bradou, gritou e os cambau. Vitória merecida. Anderson Silva certamente utilizou-se das regras do esporte para lograr seu objetivo. Nisso nada há a repudiar.
O que me parece digna de alguma repulsa é, em si, a possibilidade de o embate continuar mesmo depois que um dos lutadores vai ao chão. Caramba! O sujeito cai, está lá praticamente indefeso e.... tome pancada! Uma vez abatida, a vítima ainda pode ser surrada. Tudo isso, é claro, deve estar previsto no regulamento do tal “esporte”. Trata-se de uma selvageria instituída formalmente e, ao que tudo indica, já consagrada pelo gosto popular.
Além da covardia ínsita ao esporte, há também algo de sádico em suas regras. Sadismo que é, aliás, deliberadamente legitimado pelo regozijo da plateia, a exemplo do que ocorria com as antigas lutas do Coliseu. Não será exagero se alguém achar que, em matéria de esportes, a proximidade do UFC com os jogos do Império Romano não é pequena.
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