15 de março de
1990. Araraquara. Faculdade de Ciências e Letras da UNESP. Primeiro semestre do
curso de Ciências Sociais.
Por volta das
10 horas da manhã, eu estava na fila da cantina para comprar um café. Ouvi pelo
rádio a transmissão da posse de Fernando Collor. Imediatamente, veio-me à
cabeça a voz do meu avô chamando-o de fascista. “Fascista”, xinguei-o
mentalmente (acho que foi uma das poucas vezes que concordei com meu avô em
matéria de política).
No dia seguinte,
veio a notícia do confisco da poupança. Com um imaturo e vingativo riso, pensei
em todos aqueles que tanto haviam defendido o “caçador de marajás”. Lembrei-me
de cada argumento dado por conhecidos para justificar a eleição do jovem
presidente. Depois, oportunamente, perguntei se estavam satisfeitos com a
gestão collorida do Brasil, aquela que, finalmente, tiraria o país do atraso.
Esse
sentimento pueril de forra, deixou de existir quando tomei a real dimensão
daquela patética situação. A conduta de Collor, infelizmente atingia também
aqueles que jamais depositaram qualquer voto em seu nome. Ouvia, aos poucos,
relatos de gente que havia guardado dinheiro para a compra da casa própria, a
realização do casamento, a construção de um negócio de família.
Os primeiros
meses daquela gestão, foram conturbados e deixavam sempre em suspense o que
poderia acontecer dali para frente.
Em meio a toda
essa turbulência política, iniciava meus estudos de ciências sociais um tanto
perdido em relação à teoria que lia e à realidade que vivia. A leitura d’ O capital, do Manifesto do Partido Comunista e dos artigos publicados por
Florestan Fernandes, às segundas-feiras na Folha
de S. Paulo, acirravam ainda mais a antipatia que nutria por Collor. Com
suas tórridas metáforas, Florestan comparava o então presidente a um imperador e desancava
todas as suas condutas. Sua coluna semanal ressoava como um brado de
resistência que, infelizmente, a poucos tocava.
Aquela foi minha primeira eleição. Era, também, a primeira eleição direta após
tanto tempo de silêncio popular para a escolha presidencial. Quer dizer que
depois de longos anos, o brasileiro havia conquistado o direito de ir às urnas
para eleger o filho da aristocracia alagoana? Daríamos vida ao continuísmo?
Justamente num momento em que o que mais se desejava era a modernização da
política e a moralização da rés
pública?
De maneira
quase inédita, além de aumentar a insatisfação da oposição, Collor foi
cativando o desprezo de seus eleitores. Deixou a todos descontentes. Mesmo
assim, a irracionalidade política dos que o haviam eleito era manifesta sempre
que instados a se posicionar. Em pouco tempo, o presidente se tornou um homem
show, promovendo espetáculos aos domingos em qualquer oportunidade em que
pudesse capitalizar a simpatia da população. Virou atleta, malabarista, assumiu
um sem-número de funções, inclusive a de arremedo de presidente. Felizmente,
aquilo duraria pouco. Bastaria esperar...
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