sexta-feira, 17 de maio de 2013

Naqueles tempos: 1990 e a nação collorida

Naqueles tempos: 1990 e a nação collorida

15 de março de 1990. Araraquara. Faculdade de Ciências e Letras da UNESP. Primeiro semestre do curso de Ciências Sociais.

Por volta das 10 horas da manhã, eu estava na fila da cantina para comprar um café. Ouvi pelo rádio a transmissão da posse de Fernando Collor. Imediatamente, veio-me à cabeça a voz do meu avô chamando-o de fascista. “Fascista”, xinguei-o mentalmente (acho que foi uma das poucas vezes que concordei com meu avô em matéria de política).

No dia seguinte, veio a notícia do confisco da poupança. Com um imaturo e vingativo riso, pensei em todos aqueles que tanto haviam defendido o “caçador de marajás”. Lembrei-me de cada argumento dado por conhecidos para justificar a eleição do jovem presidente. Depois, oportunamente, perguntei se estavam satisfeitos com a gestão collorida do Brasil, aquela que, finalmente, tiraria o país do atraso.

Esse sentimento pueril de forra, deixou de existir quando tomei a real dimensão daquela patética situação. A conduta de Collor, infelizmente atingia também aqueles que jamais depositaram qualquer voto em seu nome. Ouvia, aos poucos, relatos de gente que havia guardado dinheiro para a compra da casa própria, a realização do casamento, a construção de um negócio de família.

Os primeiros meses daquela gestão, foram conturbados e deixavam sempre em suspense o que poderia acontecer dali para frente.

Em meio a toda essa turbulência política, iniciava meus estudos de ciências sociais um tanto perdido em relação à teoria que lia e à realidade que vivia. A leitura d’ O capital, do Manifesto do Partido Comunista e dos artigos publicados por Florestan Fernandes, às segundas-feiras na Folha de S. Paulo, acirravam ainda mais a antipatia que nutria por Collor. Com suas tórridas metáforas, Florestan comparava o então presidente a um imperador e desancava todas as suas condutas. Sua coluna semanal ressoava como um brado de resistência que, infelizmente, a poucos tocava.

Aquela foi minha primeira eleição. Era, também, a primeira eleição direta após tanto tempo de silêncio popular para a escolha presidencial. Quer dizer que depois de longos anos, o brasileiro havia conquistado o direito de ir às urnas para eleger o filho da aristocracia alagoana? Daríamos vida ao continuísmo? Justamente num momento em que o que mais se desejava era a modernização da política e a moralização da rés pública?

De maneira quase inédita, além de aumentar a insatisfação da oposição, Collor foi cativando o desprezo de seus eleitores. Deixou a todos descontentes. Mesmo assim, a irracionalidade política dos que o haviam eleito era manifesta sempre que instados a se posicionar. Em pouco tempo, o presidente se tornou um homem show, promovendo espetáculos aos domingos em qualquer oportunidade em que pudesse capitalizar a simpatia da população. Virou atleta, malabarista, assumiu um sem-número de funções, inclusive a de arremedo de presidente. Felizmente, aquilo duraria pouco. Bastaria esperar...





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