Naqueles tempos: 1992 e o
início da débâcle
No início de
1992, Collor já estava desgastado. Os debates na universidade eram acirrados.
Alguns militantes do PT, com sua rebeldia açodada, já ansiavam por uma
“revolução” cuja forma nem mesmo eles conheciam. Eu não era – nunca fui –
filiado ao PT e sempre tive restrições em relação às posturas que o partido
como um todo adotava. A maioria de seus militantes levantava a bandeira do
monopólio da moralidade pública, da ética e da transparência – exatamente como
Luiz Inácio fez recentemente. Pois é, certas
coisas parecem não mudar...
Interessado no
debate político, tinha a convicção de que os partidos de esquerda – PT, PSB,
PPS, PC do B – estavam se posicionando da maneira correta. Aguardavam a
oportunidade para tomar uma providência em face dos indícios de condutas
ilícitas na gestão collorida. Quando a possibilidade do impeachment assumiu contornos nítidos, a esquerda radicalizada a
entendeu como esperança real de subversão da ordem. A inocência de alguns
caminhou para a crença de que estávamos frente a uma nova chance de revolução,
algo que pudesse encaixar o Brasil nos trilhos do socialismo. Por incrível que
pareça, os militantes mais intransigentes acreditavam piamente nisso. À queda
do presidente sobreviria uma grande catarse e o capitalismo seria banido na
sociedade brasileira. O discurso era uma piada, mas muita gente acreditava
nele.
Naturalmente,
havia tantas outras facções e partidos que, embora defendessem a moralidade na política,
não manifestavam uma leitura tão ingênua do momento nacional. A “substituição”
de Collor era desejada, amplamente apoiada. Todavia, apresentava-se, de certa forma,
como um fato desprovido de consequências. Não se pensava – ou talvez não se
tenha querido fazê-lo – em como se daria a sucessão presidencial para um
político que, àquela altura dos fatos, nada mais era do que um ponto sem luz,
desconhecido em variada medida. Quem era, afinal, Itamar Franco?
O debate
político ecoava nas geniais aulas de Teoria do Estado Moderno ministradas pelo
professor Milton Lahuerta. Temas como a concepção explosiva do Estado, as
vantagens do atraso e a revolução passiva, entre outros, orientavam o
pensamento de quem construía seu repertório intelectual. Ler Gramsci, Bobbio,
Marx e Engels, Lenin... Tudo aquilo me oferecia (creio que a todos da turma) um
horizonte interpretativo extremamente fecundo, sobretudo num momento
conturbado. A teoria e a realidade políticas constituíam um enigma a ser
decifrado.
Ainda haveria
muita leitura para ser feita, muito a ser estudado. Faltava, entretanto, pouco
tempo para que o impeachment se
tornasse realidade.
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