Já que evoquei José Guilherme Merquior no post passado, vale a transcrição de um pequeno trecho em que ele comenta a obra Carnavais, Malandros e Heróis, de Roberto da Matta. A crítica foi publicada no Jornal do Brasil em 01/09/1979.
Quem quiser mais informações sobre Merquior poderá acessar o link: "Dez anos sem José Guilherme Merquior". Foi de lá que retirei a citação abaixo:
"Um dos méritos de Roberto da Matta é, aliás, o seu cuidado com a literatura anterior. Nada noto nele dessa pífia presunção, feita de incultura e insegurança, com que vários dos nossos mais novos praticantes de ciências humanas dão as costas ao que se escreveu antes deles - com muita freqüência, muito melhor - sobre seus temas. Em compensação, a linguagem de Carnavais, Malandros e Heróis poderia ser mais apurada. O autor expõe, em geral com clareza, não raro com certa elegância; mas volta e meia sucumbe ao desleixo ou, pior ainda, a esse fraseado esquisito com que tantos textos universitários macaqueiam gratuitamente palavras e construções inglesas ou francesas. O desleixo abrange alguns anacolutos e várias regências incorretas, além da estranha menção a um tal "Alex" de Tocqueville (que intimidades são essas, Professor Matta? O homem se chamava Alexis). O fraseado postiço inclui, por exemplo, um emprego super-abundante do verbo "colocar" (em vez de "observar", "pretender", "argumentar", "postular", etc.). Esse abuso de "colocar" está virando uma verdadeira muleta verbal do nosso jargão universitário. Mas quanto a Roberto da Matta, não tenho dúvida em (agora, sim) colocar esse seu livro bem acima dessas mazelas de expressão. Ele, pelo menos (ao contrário da maioria dos colocadores), tem muito a dizer".
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