Em épocas de Copa do Mundo, lembro-me, sempre, das anteriores. Não sou tão velho, acompanhei sete Copas: 1982, 1986, 1990, 1994, 1998, 2002 e 2006.
Além delas, tenho alguma lembrança vaga da Copa de 1978. Eu tinha 6 anos e vivia brincando no pátio do prédio em que morava. Ouvia gritos de gol que, ao menos para mim, nada significavam.
Em 1982, já com dez anos, fui apresentado realmente à Copa. E da melhor maneira possível: em casa comprávamos salgadinhos e refrigerantes para ver os jogos. Ficávamos na sala, obcecados, absortos. Brasil goleava as demais seleções. A escalação daquela seleção é digna de nota: Sócrates, Zico, Junior, Falcão, Éder, Batista, Leandro, Toninho Cerezo e Valdir Peres no gol. Devo ter esquecido de alguém, mas foi a melhor seleção que vi jogar. Até hoje lembro-me de certos detalhes como, por exemplo, o último escanteio batido pelo Brasil após a fatalidade do gol de Paolo Rossi. Estavam ali minhas esperanças de não sermos eliminados.
Não acreditei na desclassificação. Acho que foi naquela Copa que aprendi a indiscutível lição de que o futebol não é justo. É preciso contar com o senso de oportunidade ou com aquilo que alguns chamam de sorte.
Em 1986, perdemos nos pênaltis para a França. Zico errou um pênalti no tempo regulamentar da partida. Disseram-me, depois, que insistiu em bater o tal pênalti porque havia prometido para o filho que, caso houvesse uma penalidade máxima, assim agiria. Foi longo o tempo em que amaldiçoei o moleque. Doutor Sócrates, então meu ídolo maior do futebol, também errou. Bateu um pênalti displicente, sem garra, sem vontade. Aquilo não combinava com ele.
1990, em plena era Collor, tivemos a pior seleção que já vi jogar. Contaminado por pruridos ideológicos, não queria ver o Brasil campeão. Achava que a eventual conquista da taça pudesse chancelar o aparente clima de prosperidade que o então presidente queria fazer vingar a todo custo. Só não gostei de termos sido eliminados pela Argentina. Maradona havia dado alguma entrevista provocativa em que vaticinara nossa eliminação. A partir de então, continuei a torcer para que perdêssemos o mundial, mas, com mais fervor, torci para que não fôssemos desclassificados pela seleção de Diego Armando. Claro que hoje, olhando para trás, acho aquela torcida uma grande besteira. Onde já se viu, torcer para o Brasil perder a Copa.... Era um sentimento ultrapassado, démodé.
Em 1994, fiquei animado com a possibilidade do título mundial. As eliminatórias foram conturbadas. Chamaram Romário que, com sua genialidade, classificou o Brasil. Para incorrer no exagero alheio, arrisco a dizer que nos trouxe a taça também. Era uma seleção bacana, mas, à exceção de Romário e Bebeto, os demais jogadores não eram fantásticos. Ronaldo, aquele que seria posteriormente apelidado de Fenômeno, foi para os Estados Unidos no banco da seleção. Parece que comprou vinte pares de tênis. Não jogou, ficou quieto aprendendo algumas coisas que certamente lhe serviram para experiências futuras.
Ganhamos a Copa da Itália na disputa de Pênaltis, com um erro de Roberto Baggio. Foi uma vitória esquisita. Tive a sensação de que deveríamos ao menos ganhar a partida com um gol nosso e não com erro da seleção adversária.
Os jogadores foram recebidos aqui com honras de Estado e causaram polêmica por não quererem pagar os impostos das volumosas compras feitas na América. Um dos nossos titulares achou justo que não pagassem impostos: a velha prática do patrimonialismo havia tomado a cabeça dos nossos esportistas. Já que venceram a Copa, “fizeram uma festa bonita”, teriam direito à isenção tributária? Podíamos ficar sem essa....
Em 1998 o Brasil certamente ganharia a Copa. Com uma seleção mais competente que a anterior, fomos para as disputas crentes de que não teria para ninguém. O Brasil era o favorito. Fomos à final. Saí no dia anterior para encher a cara de chope. Quando a partida – aquele espetáculo bizarro – começou, cheguei a me perguntar se era realidade ou alguma conseqüência do porre do sábado. Primeiro tempo: dois a zero para a França. Meu pai me ligou no intervalo do jogo. Ainda poderíamos reverter a situação! Mas qual o quê? Tomamos mais um gol e até hoje tentamos entender o que aconteceu com Ronaldinho.
2002 foi a maior zebra da história das Copas das quais participamos, ou seja, de todas. A seleção daquela época havia feito as partidas das eliminatórias sem nenhuma competência, nenhum brilho. Jamais acreditei que pudessem fazer algo em campo. Felipão foi quase agredido por não levar Romário. Brigou com 180 milhões de brasileiros e não arredou pé: Romário não foi.
Fomos campeões. Vi Ronaldinho jogar para valer, obstinado a ganhar a Copa, como disse em várias entrevistas. Era a redenção do menino. Todos duvidaram que ele pudesse, depois das cirurgias do joelho, voltar a jogar como antes. Foi o artilheiro daquela Copa que fez brasileiros acordarem de madrugada para torcer. Ganhamos o título numa manhã de domingo, por volta das dez horas da manhã.
Tal como aconteceu em 1998, fomos para a Copa de 2006 convictos de que iríamos faturar outro título. Vimos uma seleção brasileira apática perder para a França. Ouvi Cafu, com a maior cara-de-pau, retrucar para um jornalista que a sua geração era vencedora e que a derrota para a França não poderia ser parâmetro para avaliá-la. Ainda que tivesse razão, seria melhor ter ficado quieto ou se desculpado pelo vexame de seus colegas. Pela terceira vez, fomos eliminados da Copa pela França.
Agora, a poucos dias da estréia da Copa de 2010, quero crer que a seleção de Dunga possa nos surpreender. Para não arriscar palpite, fico na expectativa. Essa, de todas as seleções que vi jogar, é a mais misteriosa, aquela que menos conheço.
Ainda assim, merece minha torcida.
Um comentário:
1970 ditadura
1974 sem Pelé porque havia tortura
1978 futubel arte mas não ganhamos
1982 sem o CARECA machucado!
1986 bonita....mas perdeu!
1990 um desastre...
1994 com ROMARIO E BEBETO vitória!
1998 a França derrubou o Bra...
2002 NÓS NA FITA COM RONALDÃO!
2006 fomos para a BALADA! brazuca!
2010 um INCOGNITA sem Ronaldinho pato ganso e..marreco!!
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