Não acreditei quando
ouvi o toque de videoconferência do WhatsApp. Era o tio Harlan.
- Estou voltando
para o Brasil!
- E a Lava-Jato? –
indaguei curioso.
- Coisa do passado.
Não vão me pegar.
Embora soubesse
que entre o Tio Harlan e o trabalho há uma antítese insolúvel, resolvi
perguntar se tinha alguma perspectiva de emprego por aqui.
- Emprego? Estou
prestes a ficar bilionário!
- Bilionário? O
que o senhor aprontou dessa vez?
- Descobri a
vacina contra o novo Coronavírus! Estou negociando a fórmula com um grande laboratório
americano.
Aquilo não podia
ser verdade. Tio Harlan acabando com a pandemia mundial? Piada! Pedi informações
sobre a tal vacina. Ele me explicou que ela já havia sido testada em um grupo
de mais de 500 pessoas. Todas se mostraram imunizadas. O sucesso era garantido.
Contudo, quando se
fala de Tio Harlan, sempre há uma ressalva ou exceção. Com ele, nada é cem por
cento. Arrisquei uma provocação.
- Todas, sem
exceção, Tio Harlan?
Ele, então, abriu
o jogo. À míngua da certeza da eficácia da vacina, a ela foi adicionada uma
substância, oriunda da papoula, que poderia, na maioria dos casos, reduzir os
efeitos da Covid-19. Ou seja, se não funcionasse, o antídoto milagroso proporcionaria
ao contaminado uma inequívoca sensação de bem-estar.
- Puta que o pariu,
Tio Harlan! Desse jeito, o senhor vai entorpecer o planeta!
- E não é disso
que estamos precisando?
Dessa vez, fui eu
a bater no telefone na cara dele.
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