sábado, 21 de março de 2020

Literatura, cárcere e ressocialização



Literatura, cárcere e ressocialização
Na semana passada, antes que irrompesse o caos provocado pelo Coronavírus, estive no Centro de Progressão Penitenciária de Hortolândia. Não fui visitar nenhum cliente, mas participar de uma oficina de leitura com os reeducandos do regime semiaberto. Eles leram meus romances policiais, Mistério na Zona Sul e Mistério no Morro do Deleite.
Havia tempos esperava por uma oportunidade de fazer isso. Além da satisfação em ter novos leitores, gostaria de saber o que pensariam sobre as tramas que construí para abordar temas como o trabalho infantil e o tráfico de drogas.
Antes de responder às perguntas sobre os livros, apresentei-me. Disse que sou advogado criminalista e professor. Falei um pouco sobre minha trajetória. Depois, enfatizei a importância da leitura para a construção de uma visão crítica sobre o mundo. Em dado momento, provoquei-os com uma frase de impacto: a pior prisão é a ignorância! Senti um frio na barriga. O que diriam da afirmação em face da desumana segregação que lhes foi imposta? Talvez fosse fácil falar assim para quem não foi privado da liberdade. Parecia-me uma grande provocação. A reação de todos, contudo, foi extraordinária. Balançaram positivamente as cabeças e disseram que eu tinha toda a razão.
Seguiram-se, então, inúmeras perguntas sobre as temáticas dos livros, a construção de seus personagens, cenas importantes das tramas. Ao anúncio do mistério que envolverá o próximo livro, tentaram, sempre de maneira divertida, arrancar de mim algum spoiler. Não cedi! Mantive o mistério em segredo. Espero que, em breve, todos possam ler Mistério na ONG.
Após comerem bolo e tomarem café, tiramos fotos juntos. Abraçaram-me com um sentimento e calor humano capazes de me emocionar. Antes da saída, visitei rapidamente a biblioteca do CPP.
Logo mais, serão apreciados os requerimentos de remição da pena pela leitura. Espero, sinceramente, que o Ministério Público adote, em seus pareceres, posição diferente daquela que tem sido usual. Seja como for, aguardo pela serenidade dos magistrados da execução criminal. A eles credito a esperança de reconhecerem o papel da leitura no processo de ressocialização e na construção de um mundo melhor.
Por fim, não posso deixar de mencionar que a oficina somente foi possível graças aos esforços da Helen Ferreira, Estagiária de Direito do CPPH, da Elisande de Lourdes Quintino de Oliveira, funcionária da FUNAP e do Diretor Técnico Marcos Antônio de Medeiros Silva. Contamos, também, com a oferta de exemplares dos meus livros por parte da Editora Hedra. A todos eles, bem com a cada um dos reeducandos, agradeço, de coração, pela oportunidade.
Em tempo: fico devendo as fotos, pois sua divulgação ainda depende de autorização. 

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