- Preciso de um criminalista!
- O quê?
- É isso mesmo que você está pensando: a Lava-Jato me pegou!
- Até você, tio Harlan?
Fiquei estupefato. Ou, melhor, estarrecido, como diria aquela mulher.
- Não acredito.
- É verdade. Chegaram até mim.
Fazia um bom tempo que o Tio Harlan não dava notícias. Meus amigos já estavam preocupados. Sabiam que, uma hora ou outra, ele sempre aparecia. Se não era para pedir socorro, era para pedir colo (ou advogado).
- O que aconteceu? – perguntei incrédulo.
Ele começou a narrar. Disse que embora ninguém suspeitasse, sempre teve relações com o homem da Moralidade. Naturalmente, desconfiei. Alguém que disse ter ganhado do Borg ou composto “Disparada”, não poderia ter relações com o dono da Moralidade. Mas ele afirmou:
- Sim, tomávamos café em São Bernardo. A d. Larisa Metícia é que servia. Tudo na maior intimidade, com suspiros e camafeus.
- Continue – eu disse.
A história era, aparentemente, simples. A pretexto de ajudar o ex-ministro da Casa Civil, ele disse que não se importava em figurar como proprietário na escritura de um Loft.
- Onde era?
- No Leblon!
Pelo menos a história não foi tão miserável com meu tio. Do Guarujá para o Leblon a grandeza é abissal, de distância e de bom gosto.
- Era só assinar. A matrícula era minha, mas a propriedade, dele.
- Puta que o pariu, Tio Harlan. Você assinou?
- Assinei. A carne é fraca!
Ele caiu no choro, coitado. Confessou que foi o
Jesley, um amigo dos tempos do ginásio e filho de açougueiro, que o estimulou.
Os tempos eram outros, não havia, ainda, a caça às bruxas.
- A gente fazia o que queria. Ninguém ligava. De
repente, começou essa histeria. O mouro do sul nem era conhecido e estava longe
de fazer discursos da Ilustração.- E o Loft? Valeu a pena? – perguntei como se quisesse animá-lo, mas o tom de sarcasmo era indisfarçável.
Não teve dúvidas: bateu o telefone na minha cara.
Pobre Tio Harlan. Curitiba o aguarda!
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