Veríssimo e o Jazz
Que Veríssimo toque
Saxofone, não é novidade. O que soa curioso – ao menos para mim foi motivo de
surpresa – é seu conhecimento e sua paixão pelo Jazz, pelos seus maiores
representantes e pelas peculiaridades técnicas desse estilo. Tudo isso e um
pouco mais é abordado em seu recentíssimo Jazz,
publicado pela editora Foglio, em formato digital (sim, é um e-book). Não sei
se os textos ali reunidos foram publicados em algum veículo ou coletânea de
crônicas.
Então, quer dizer que
Veríssimo – um dos maiores cronistas brasileiros – publicou um trabalho de
exegese e crítica musical? Nada disso. O que se lê nas páginas digitais são,
também, crônicas. Algumas delas têm caráter puramente ficcional, como é o caso daquela
em que ele narra o encontro entre Jorge Luis Borges e Benny Goodman, ambos
mortos em junho de 1986. O diálogo entre eles contrasta o universo da música
com o da literatura. Ali, quase se trava um duelo estético.
A obra se inicia com
especulações sobre a origem da palavra Jazz, passa pela exposição de
características técnicas de Dave Brubeck e Paul Desmond, aponta a paixão de
Miles Davis pelo boxe, compara a extração social de Cole Porter com a de
Gershwin e revela a verdadeira identidade do saxofonista Bob Fleming (alguém o
conhece?).
Veríssimo é dos poucos
cronistas capazes de fazer com que uma narrativa com dados biográficos se
assemelhe a melhor ficção, como se fosse, de fato, uma estória criada. O leitor
de Jazz ficará estupefato – e talvez
até desconfiado – ao se deparar com breve relato sobre o dia em que, ainda
jovem, o autor perambulou por Nova Iorque em busca de sessões musicais e se
deparou com... ninguém menos que Charlie Parker e Dizzy Gillespie. O detalhe:
encontrou-os juntos, tocando no mesmo palco, no Birdland. Fantástico!
Por essas e tantas outras,
vale apreciar Jazz.
Boa leitura para os
interessados! E muito Jazz, mesmo durante o carnaval!
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