sábado, 2 de abril de 2011

Tio Harlan 2: o campeão

Tio Harlan 2: o campeão - Roberto Barbato Jr

Pois é. O tio Harlan nem sempre foi um filho da puta. Quando eu era pequeno achava que ele era um sujeito bacana. Vivia me contando suas experiências exitosas. Eu morria de admiração por ele.

Uma vez me relatou que um de seus grandes méritos foi ter vencido os 100 metros livres numa olimpíada. Falou que, naquele dia, se sentiu o máximo, como se fosse um motor da Ferrari. A potência em pessoa, a velocidade encarnada num corpo humano. Chegou à frente dos outros competidores com uma diferença de 7 segundos, o que, segundo ele, era uma eternidade. “Carl Lewis? Nunca ouvi falar”, dizia desdenhoso.

Nas olimpíadas seguintes, a dar provas de sua versatilidade, resolveu mudar o esporte. Tornou-se nadador. Venceu tudo a que tinha direito: crawl, costas, borboleta e, principalmente, o nado de peito. Era medalha atrás de medalha. Com o sucesso, chamaram-no pra ser treinador de uma equipe norte-americana. O problema era que seu passaporte estava vencido e ele tinha preguiça de renová-lo. Então, acabou recusando a proposta. “Isso é pra quem pode”, respondeu quando perguntei se o motivo da recusa era aquele mesmo. Acreditei, é claro.

Sua última incursão no mundo esportivo teria sido como tenista. A carreira só não foi longe porque ele enjoou do barulho da bola e dos gemidos dos jogadores. Odiava quando alguém batia na bola e soltava um ãããh. Dizia que aquilo era coisa de maricas. Mesmo admitindo que não teve lá muito sucesso, sempre contou aos quatro ventos que derrotou o Borg, no auge da sua forma física. Encontraram-se num clube paulistano para uma partida as dez horas da noite. Pouca gente presenciou o espetáculo, a pedido do próprio Borg, que pressentia a derrota para o grande tenista Harlan.

Pô, o tio Harlan era o máximo. Era o cara.

Fiquei sem graça quando a tia Cecília, ex-mulher dele, me confessou que o filho da puta nunca passou perto de uma piscina ou de uma quadra. Na juventude, o que ele mais sabia fazer era encher a cara. Bebia como um doido. Dava baixaria, caía, berrava. Xingava meia cidade e acabava sendo levado pra casa por alguma boa alma que o encontrava em estado lastimável na rua. “Seu avô morria de vergonha”, disse a tia Cecília. O tio Harlan, quem diria, era o maior alcoólatra da paróquia. Pois é: além de filho da puta, era também alcoólatra. E papudo.

Se hoje ele ainda bebe? Não, claro que não. Ele parou com isso. Na cadeia.

2 comentários:

Joaninha disse...

Belo dia, meu amigo Roberto... Você mexeu na "ferida" de toda boa família, porque toda família tem um TIO HARLAN!!!rsrsrsrsrs
O que seriam das crianças, se assim não o fossem.Esses Tios Harlan... sobrevivem nas histórias fictícias, por meio das "palavras" ou nas histórias naturais, por meio da "saudade"!!
Amei estar nesse momento com você...
(e não é loucura da joaninha)

Wilame Prado disse...

Grande tio Harlan! Continue com suas histórias, são divertidíssimas!
Um abraço.