Existem certas angústias e sentimentos que, aos olhos da maioria das pessoas, poderiam soar insossas, não houvesse razão bastante peculiar que as justificassem....
Em 1992, quando Caetano fez 50 anos, houve um especial de comemoração de seu aniversário. Se não me engano, era época do então LP (também vendido na versão CD) "Circuladô de Fulô". O vídeo foi veiculado não sei onde e, depois, virou VHS.
No especial, Caetano cantava sua primeira música, que é digna de nota e merecia ter sido gravada. Também falava dos compositores que lhe inspiraram, sem se esquecer, obviamente, daquele que credita ser o mais importante da música popular brasileira: João Gilberto.
Referindo-se à sua música "Genipapo Absoluto", do LP "Estrangeiro", disse que havia emprestado uma parte da música de Braguinha (João de Barro), chamada "Mané Fogueteiro". O último trecho da música de Caetano é o seguinte:
"'Aquele que considera' a saudade
Uma mera contraluz que vem
Do que deixou pra trás
Não, esse só desfaz o signo
E a 'rosa também'".
Mané Fogueteiro, por sua vez, tem o seguinte trecho:
"Mané Fogueteiro gostava da Rosa
Cabocla mais linda esse mundo não tem
Mas o pior é que o Zé Boticário
Gostava um bocado da Rosa também".
Fiquei com "Mané Fogueteiro" na cabeça durante anos, sem saber a letra inteira. Como em 1992 a internet muito longe estava da nossa realidade, não tinha onde procurar pela música. Perguntei ao meu avô e à minha avó. Por serem mais velhos, provavelmente, conheceriam a composição de Braguinha. Ninguém, entretanto, ouvira falar dela.
Depois que meu avô morreu, ainda insisti com minha avó. Nenhuma lembrança, por mais vaga que fosse, ocupava a cabeça dela. Era o que dizia, embora eu tivesse a convicção de que, repentinamente, ainda fosse se recordar da melodia e, consequentemente, da letra. No ano passado, consegui uma bela versão da música. Baixei-a da internet e a remeti para minha irmã, que estava indo para Rio Preto visitar minha avó. Bastaria reproduzi-la no laptop para que sua memória fosse refrescada. Minha irmã de fato dormiu em seu apartamento, conversou com ela e riu de suas histórias. Por algum motivo que agora me escapa, esqueci-me de perguntar à minha irmã sobre a resposta dada por D. Líbia quando da suposta audição da música.
Recentemente, indagada a respeito dessa resposta, minha irmã chegou a sugerir, hesitante, que nem sequer executou a música para sanar minha dúvida. Indignado, cobrei-lhe uma posição precisa, mas de nada adiantou.
Minha avó se foi pouco depois e o Mané Fogueteiro agora está atrelado a uma angústia que talvez me consuma o resto da vida.
Um comentário:
Me bateu uma angústia. Sério mesmo. Fui lendo e eu esperava mesmo que sua avó tivesse ouvido a música. Quem sabe outro dia, não? Outro tempo?
Um abraço.
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