domingo, 12 de setembro de 2010

Ainda política: opções e anulação

Estou parecendo alguns políticos: prometi que não falaria de política aqui. No entanto....

Meu desânimo com a política é tão grande que fico receoso de chegar à conclusão de que vale a pena anular meus votos.

Nunca anulei voto algum. Nunca. Nem mesmo quando tive de optar, no segundo turno de uma eleição majoritária, entre o capeta e o coisa-ruim. Fui para a urna com uma sensação terrível, sabendo que um dos dois fatalmente ganharia o pleito eleitoral. Se fosse o coisa-ruim, estaríamos perdidos. Se fosse o capeta, seria pior ainda. Depois, inferi que os dois seriam desastrosos. Ambos eram realmente terríveis e, sob todos os pontos de vista, tinham suas trajetórias maculadas por toda sorte de desventuras morais e éticas. Pois bem, acho que o coisa-ruim virou o capeta e piorou ainda mais a situação. O outro capeta, excluído do poder, continuou com sua sanha antiquada, mas ainda bastante sedutora para os quadros reacionários da nossa sociedade.

Essa experiência deveria ter servido para me mostrar que, em certas situações, é realmente desejável que se anule o voto. Todavia, até hoje não me convenci disso. Explico minhas razões de forma simples.

Não tenho dúvida sobre a necessidade de refinar, na nossa sociedade, os instrumentos políticos e o processo eleitoral. E não se pode fazer isso abrindo mão da representatividade. É fundamental que aqueles desejosos de melhorar o mundo em que vivem assumam compromissos políticos, tal como assumem compromissos profissionais, sentimentais e religiosos. Disso defluirá a possibilidade de alcançar a maturidade política. Aliás, a educação política deve iniciar-se ainda na fase de desenvolvimento intelectual e cultural do indivíduo. Discutir política, ao contrário do infame ditado popular, é essencial para o amadurecimento da sociedade.

Avaliar propostas e debater programas político-partidários são formas indiretas de intervenção na realidade social. Associado a elas, a escolha de candidatos em pleitos eleitorais cumpre um papel sobremaneira importante para a organização da própria sociedade.

Assim, ainda que repute pertinente sob determinadas situações, discordo da idéia de que o voto nulo é uma forma de protesto. Que protesto é esse? Qual é seu alcance? Qual é o seu sentido prático? O que esse protesto nos diz na discussão da agenda política?

Protesta-se, afinal, contra o quê?

Alguns protestam contra a obrigatoriedade do voto. Não admitem nenhum tipo de imposição e, por isso, se furtam a votar. Não sabemos, entretanto, se não se trata de uma boa desculpa, um grande álibi, que justificaria a alienação política de tanta gente. E se o sufrágio fosse facultativo? Será que os protestos existiriam? Não haveria, porventura, outra razão para se anular o voto? Não se criaria outro álibi para a velha apatia política?

Enfim, não consigo, ainda, elidir a idéia de que todos nós devemos assumir compromissos políticos e não consigo ver a anulação do voto como protesto concreto, viável e útil.

Mário de Andrade tinha toda a razão quando, há vários anos, disse que vivemos a idade política do homem e que a ela temos de servir. Por que não fazemos isso?

2 comentários:

Antonio Ozaí da Silva disse...

Caro Roberto,

obrigado e parabéns por expor de forma sincera.
Não quero lhe convencer - até porque considero seu questionamento pertinente - mas já decidi pelo voto nulo.

abraços e tudo de bom,

Lápis Impreciso disse...

Ozaí, caríssimo,

Imaginei que sua postura fosse essa. Conforme disse, não descarto a possibilidade de aderir a ela no futuro....

O importante é o respeito da discussão política. E sei que posso contar com você para isso.

Muito obrigado.

Abraços

Roberto.