domingo, 23 de setembro de 2007

Sugestão: Caixa Dois


Perguntaram-me se minha inspiração havia acabado. Que inspiração? Seja lá qual for, meu problema é o tempo. E na falta dele, limito-me apenas a fazer uma sugestão: assistam a Caixa Dois, do Bruno Barreto. Se não valer pelos eventuais lances cômicos, valerá, sem dúvida, pela riqueza dos diálogos e do argumento do filme.

O fato de ter derivado de uma peça de teatro, em nada o prejudica. A adaptação do Barreto ficou excelente e o elenco todo está ótimo.

Vale a pena!

É só... Por ora é só...




quinta-feira, 13 de setembro de 2007

O avião, por Vinícius de Moraes



Já que no post anterior falei da fobia do poetinha por aviões, segue aí uma de suas pérolas:

"O avião é mais pesado que o ar, tem motor a explosão e foi inventado por brasileiro. E você ainda quer que eu ande nele?" (Vinícius de Moraes)

Nem é preciso dizer nada...

É só... Por ora é só...



terça-feira, 11 de setembro de 2007

A "irracionalidade" dos intelectuais


Falar da irracionalidade dos intelectuais parece um contra-senso. Homens de cultura, afeitos a todo tipo de especulação científica, não poderiam eles serem tachados de seres desprovidos de razão. Muitos asseveram em seu ofício que nada poderá ser digno de crédito senão por meio do crivo da racionalidade técnica e do cálculo moderno. Naturalmente, arrogam-se iluministas! Nas densas páginas de Dialética do Esclarecimento, Adorno e Horkheimer traduziram esse sentimento nos seguintes termos: "O que não se submete ao critério da calculabilidade e da utilidade torna-se suspeito para o esclarecimento" (Theodor W. Adorno & Max Horkheimer. Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985, p. 21). Desnecessário lembrar o leitor que, aqui, "Esclarecimento" significa "Iluminismo".

Pois é... a despeito disso, alguns intelectuais têm posturas pessoais que contradizem sua "intelectualidade".

Sérgio Buarque de Holanda, por exemplo, tinha lá seus demônios... Reza a lenda que não deixava, em nenhuma hipótese, treze cigarros no maço. Não me recordo a razão do procedimento, mas, certamente, tem a ver com alguma superstição. Por falar em demônios, dizem também que o historiador paulista, quando voltava para casa do colégio, ainda menino, vivia a olhar para trás, suspeitando que o demônio estivesse em seu encalço.

Da mesma geração, e amigo dele, Vinícius de Moraes não era menos “irracional”, para não dizer supersticioso. A que se devia seu medo de voar? Não se sabe! Sabe-se que o poeta tinha uma fobia de avião que parecia mesmo visceral, a ponto de provocar-lhe pesadelos terríveis. Foi o que aconteceu, curiosamente, na madrugada da morte de Mário de Andrade, em 1945. Sonhara que vários de seus amigos haviam morrido num acidente de avião. O sonho – talvez um presságio – o impediu de comparecer ao enterro do líder modernista na Paulicéia Desvairada.

Esse medo, fobia ou seja lá que nome tenha, rendeu-nos uma belíssima crônica sobre Mário, intitulada "A manhã do morto" (sugiro sua leitura e comprometo-me a colocá-la aqui no Blog, se houver interesse de alguém).

Por tudo isso, alguém disposto a fazer pilhéria se pautaria nos exemplos acima dados para dizer que "os intelectuais não são tão intelectuais assim”. Uma tal afirmação defluiria da lamentável confusão entre o ofício da razão e as convicções pessoais. Besteira discutir isso aqui!

De outro lado, há aqueles intelectuais "intransigentes" que, em hipótese nenhuma, arredam pé de suas convicções mundanas.

Paulo Duarte é um exemplo paradigmático. Político combativo, foi, antes de tudo, um opositor aguerrido da ditadura varguista, tendo sido exilado duas vezes. Ao lado de Mário de Andrade, Rubens Borba de Moraes, Sérgio Milliet e outros intelectuais, ajudou a construir o Departamento de Cultura de São Paulo, em 1935. Enquanto fazia pesquisa para meu doutorado, encontrei em seu espólio uma suposta carta psicografada. Ela fora escrita por um sujeito que procurara por ele, dizendo levar notícias de Mário de Andrade. Ora, sendo tão íntimo do autor de Macunaíma, Duarte não deixara de conferir a tal missiva. Após sua leitura, concluiu que a grafia e o estilo não se identificavam com os do velho amigo. Isso lhe bastou para concluir que "há também falsários do outro mundo"...

Para ele, Mário continuaria vivo em suas cartas, em sua memória e na copiosa herança cultural que deixara para o Brasil.

É só... Por ora é só...


domingo, 2 de setembro de 2007

Sr. Luiz Inácio e o monopólio da autoridade moral e ética



Quando pensei em criar esse blog jamais imaginei que ele pudesse se prestar a algum tipo de comentário político. Lembro-me sempre de Mário de Andrade e suas reiteradas recusas da política. "Não me fale em política. Tenho horror à política", dizia o autor de Macunaíma. Naturalmente, o leitor da obra marioandradina sabe que essa recusa não significava repúdio à política, mas sim às suas estruturas partidárias e burocráticas. Mário foi um grande combatente político, não restam dúvidas (o interessado no assunto poderá ler Missionários de uma utopia nacional-popular, livro de minha autoria, publicado pela Editora Annablume: www.annablume.com.br).

Pois bem... jurei que não publicaria, aqui, nada de talhe político. Não pude me conter, entretanto.

Ontem, ao discursar no 3o Congresso do PT, o Sr. Luiz Inácio mais uma vez reivindicou para seu partido o monopólio da autoridade moral e ética! As palavras, publicadas na edição de hoje da Folha de S. Paulo, são as seguintes:

"É verdade que podemos ter cometido erros, e os erros estão sendo apurados como precisam ser. Ninguém neste país tem mais autoridade moral e ética do que nosso partido. Admitimos que tem gente igual a nós, mas não admitimos que tenha melhor".

Não é preciso grande esforço de interpretação para inferir que, segundo seu depoimento, o PT tem o monopólio da autoridade moral e ética no Brasil. Além disso, o PT parece traduzir os conceitos da lisura, da transparência e honestidade. Abaixo dele, muitos; acima, ninguém!

Quanta pretensão! É muita arrogância!

O Sr. Luiz Inácio é mesmo um indivíduo muito inteligente! Agora que as luzes do cenário público nacional se voltam para a votação do mensalão no STF, vem ele inverter a lógica do discurso que fizera por ocasião das denúncias de Roberto Jefferson. À época, concedera sagaz entrevista na qual fazia crer o incauto eleitor que já havia se afastado do partido em razão de suas atribuições na Presidência da República. Assim, investido do cargo de Chefe do Executivo, não teria tempo e condições práticas de tomar conhecimento sobre o que realmente se passava no PT. Eventuais negociações escusas, improbidade na condução das finanças do partido e outros tantos assuntos, não lhe eram familiares. Afinal, um presidente da República não teria tempo para acompanhar tanta coisa... Por ironia, a infausta declaração transformou-se, em exíguo espaço de tempo, em motivo de pilhéria nacional.

Curioso notar que, nesse mesmo período, o Sr. Luiz Inácio também reivindicara para si o monopólio da autoridade moral e ética. Para que não pairem dúvidas sobre essa reivindicação, vejamos sua declaração, publicada na Folha on line, em 21/06/2005:

"Ninguém neste país tem mais autoridade moral e ética do que eu para fazer o que precisa ser feito nesse país".

Mas, afinal, o Sr. Luiz Inácio continua petista? A pergunta não é descabida. Em 2005 fazia-nos crer que era apenas presidente e que os quadros partidários, bem com sua rotina, estavam muito distantes de sua realidade. Não era, então, um petista militante! Hoje, ainda presidente, a situação assumiu novas feições. Embora preocupado com a condução da nação, o Sr Luiz Inácio tem tempo de sobra para vociferar no congresso do seu partido a respeito de uma eventual autoridade moral e ética.

Em suma, a ética aí existente não é outra senão a ética da conveniência!

Seja como for, não nos esqueçamos: os baluartes da ética, da moral, da lisura, da transparência e da honestidade são o Sr. Luiz Inácio e o Partido dos Trabalhadores! Ninguém mais é melhor do que eles! Ninguém!

Em tempo: em 1989, 1994, 1998 e 2002 votei no Lula! Em 2006 votei no Sr. Luiz Inácio! Não preciso explicar a diferença. Preciso?