sábado, 4 de novembro de 2023

Orlando Silva e Cole Porter

 Orlando Silva e Cole Porter – Roberto Barbato Jr 

A obra de Cole Porter (1891/1964) teve amplo acolhimento no Brasil. Inúmeros intérpretes gravaram suas canções, em variados momentos. Caetano Veloso gravou So in love e Get of town; Gal Costa, Begin the beguine; Leny Andrade, I’ve got you under my skin; João Gilberto, You do something to me. Essas gravações são relativamente recentes. Datam, quando muito, de três ou quatro décadas.

Para além desse período, é possível encontrar uma longínqua versão de Beguin the beguine, com letra de Haroldo Barbosa, interpretada por Orlando Silva. Pois é. O maior ícone do choro-canção brasileiro fez o registro em 1945, com regência do Maestro Carioca. A gravação está no álbum Orlando Silva nos anos 40 - Série Monumento da Música Popular Brasileira.

Da contracapa do LP, consta que Cole Porter remeteu carta ao “músico das multidões” assinalando que sua interpretação era a mais perfeita que ouvira.

Ao ouvir a gravação de Orlando Silva, talvez seja difícil acreditar nas palavras do autor da música. O elogio é, todavia, crível. A potência da voz de Orlando, sua afinação, a elegância de seu timbre foram responsáveis por um ajuste bem resolvido, se entendido dentro do espectro do bolero, do choro-canção ou das tradicionais músicas de fossa que ele tão bem interpretava. O ajuste é tão exitoso que chega a mascarar a letra cafona: “quando começa o Beguin...”

Para quem já ouviu outras gravações do clássico, sobretudo a de Ella Fitzgerald no Songbook dedicado a Cole Porter, soa estranhíssimo, admita-se, o registro de Orlando Silva. À primeira audição sucederá um incômodo, um questionamento sobre a inexistência de uma Big Band ou de uma sonoridade mais próxima do Jazz. Depois, com a consciência de que Orlando recepcionou a canção dentro de seu universo musical, será mais fácil compreender o elogio de Cole Porter.

Ouça a música, que está disponível no YouTube, e, depois, comente aqui o que achou!

#musicadetodosostons

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