Orlando Silva e Cole Porter – Roberto Barbato Jr
A obra de Cole
Porter (1891/1964) teve amplo acolhimento no Brasil. Inúmeros intérpretes gravaram
suas canções, em variados momentos. Caetano Veloso gravou So in love e Get
of town; Gal Costa, Begin the beguine; Leny Andrade, I’ve got you
under my skin; João Gilberto, You do something to me. Essas gravações
são relativamente recentes. Datam, quando muito, de três ou quatro décadas.
Para além
desse período, é possível encontrar uma longínqua versão de Beguin the beguine,
com letra de Haroldo Barbosa, interpretada por Orlando Silva. Pois é. O maior ícone
do choro-canção brasileiro fez o registro em 1945, com regência do Maestro
Carioca. A gravação está no álbum Orlando Silva nos anos 40 - Série
Monumento da Música Popular Brasileira.
Da contracapa
do LP, consta que Cole Porter remeteu carta ao “músico das multidões” assinalando
que sua interpretação era a mais perfeita que ouvira.
Ao ouvir a gravação de Orlando Silva, talvez seja difícil acreditar nas
palavras do autor da música. O elogio é, todavia, crível. A potência da voz de
Orlando, sua afinação, a elegância de seu timbre foram responsáveis por um
ajuste bem resolvido, se entendido dentro do espectro do bolero, do choro-canção
ou das tradicionais músicas de fossa que ele tão bem interpretava. O ajuste é
tão exitoso que chega a mascarar a letra cafona: “quando começa o Beguin...”
Para quem já ouviu outras gravações do clássico, sobretudo a de Ella Fitzgerald
no Songbook dedicado a Cole Porter, soa estranhíssimo, admita-se, o
registro de Orlando Silva. À primeira audição sucederá um incômodo, um questionamento
sobre a inexistência de uma Big Band ou de uma sonoridade mais próxima do Jazz.
Depois, com a consciência de que Orlando recepcionou a canção dentro de seu
universo musical, será mais fácil compreender o elogio de Cole Porter.
Ouça a música, que está disponível no YouTube, e, depois, comente aqui o
que achou!
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