A despedida de Rogério Ceni
Aconteceu,
enfim, a tão adiada (para alguns, odiada) aposentadoria de Rogério Ceni. Despede-se do futebol um
mito, um raro caso de perfeita identidade entre jogador, clube e torcida. Futuras
gerações o associarão ao São Paulo Futebol Clube com grande facilidade.
É infindável o
número de suas vitórias, méritos e prêmios. Não vou enumerá-los, pois isso
realmente consumiria tempo e paciência. Quem tiver interesse, que faça bom uso
do Wikipédia. Lá, entre estatísticas e rankings, por certo terá a descrição da
exitosa trajetória do rapaz.
Dentre seus
méritos está o fato de ter atuado por tanto tempo no São Paulo, recusando propostas de clubes estrangeiros. Fez história no
clube, impedindo e marcando gols. Sim, um goleiro que marca gols de faltas e
pênaltis.
Também parece
não haver dúvidas de que seja um bom sujeito. Alheio a escândalos que
geralmente envolvem jogadores de futebol, ele jamais apareceu no noticiário por
supostas condutas ilícitas e comportamentos moralmente recusados pela opinião
pública.
Mas não é nada
disso que pretende focar essas linhas. O Rogério Ceni que agora interessa é
outro.
Antes de sua
aposentadoria, havia já algum tempo, estava difícil assistir a uma partida da qual participasse o
goleiro. Explica-se.
Por alguma razão
que foge ao nosso conhecimento, o jogador que defendia a inércia das redes
passou a se arrogar o papel de árbitro de futebol. Pois é, em vez de goleiro, alçou-se,
ainda que informalmente, à posição de juiz. O bom moço demonstrou
que era pródigo em discussões sobre o destino do jogo. Em tudo opinava, gritava,
coçava a cabeça, debatia, vociferava! Manifestava inconformismo com toda e
qualquer atitude do árbitro, sobretudo se não fosse favorável ao seu time.
Já cheguei a
notar situações em que ele saía da grande área e corria até o outro lado do
campo para, sempre de maneira respeitosa (mãos para trás), reivindicar uma
postura do juiz. Então, fazia comparações, cobrava dele uma coerência que supunha
existir na sua interpretação do jogo. Quando contrariado – o que era frequente!
–, voltava para seu lugar, resmungando, sinalizando negativamente com a cabeça,
a testa enrugada, o semblante carrancudo.
Em sua
concepção, a arbitragem era invariavelmente errada, mesmo quando, diante do
momento do pênalti, ele adiantava mais de quatro passos à frente da linha do
gol. Talvez se um tira-teima lhe mostrasse sua precipitação, não hesitaria em
colocar a culpa no árbitro, argumentando que o apito é que havia chegado atrasado.
Nos últimos anos,
assistir a um jogo do São Paulo equivalia a observar um show de lamentações. Era
como ver um atleta se movimentar com micagens, cacoetes de insatisfação e
ranhetice.
Rogério Ceni
poderia ter nos poupado de tudo isso. Seu brilhantismo e a competência com a
qual desempenhou seu ofício em campo, poderiam vir acompanhados de um espírito
leve e do riso que marca a personalidade de tantos craques como ele.
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