Primeira opção - Roberto Barbato Jr
Um
tiro bem no meio da testa. Da minha. Certeiro, sem nenhuma possibilidade de
erro. Dizem que um tiro de 12, com cano serrado, faz um bom estrago. Deve
esfacelar o cérebro inteiro, sem hesitação. Um segundo, e tudo se explode:
miolos, sangue, ossos. Toda a memória de uma vida.
Não
pode haver erro. Sei de pessoas que tentaram e não obtiveram êxito. A bala
ficou alojada em algum lugar da cabeça. Em vez do sujeito se acabar, matou a
família inteira, aos poucos, com muito sofrimento. Virou um vegetal. Ainda hoje
está na cama. Há, também, aquelas situações patéticas em que alguém resolve dar
cabo de sua vida de maneiras sui generis:
desferindo um tiro no braço, furando o dedinho, cortando o ombro ou se jogando
do primeiro andar. Passado o susto, vem a ressaca moral. O ridículo da situação
é implacável. “Tá vendo aquele ali? Um incompetente”. Sem dúvida, não é pior
que vegetar. Mas, convenhamos, é uma tristeza. Desmoralização cruel.
Por
tudo isso, comigo terá de ser diferente. Não pode haver tentativa. Tem de haver
consumação.
Sim,
eu sei. Há alguma praga, cuja origem desconheço, segundo a qual quem se mata
não tem direito ao Paraíso. Da Terra se vai, em um átimo, às profundezas do
inferno. Não se admite que a vida seja autoceifada. Se o sofrimento é grande no
mundo terreno, aceite-o, purgue, purifique sua alma. A recompensa virá. Em virtude
dessa concepção, talvez seja melhor penar aqui e gozar lá. Não sei. Não estou
convicto de que exista o “lá”. De mais a mais, cada coisa a seu tempo.
Primeiro, a azeitona no meio da testa. Resolvido isso, parte-se, então, para o
debate com quem conduz o destino do outro lado do mundo. Quem quer que seja, haverá
sempre uma forma de negociação. Não vou, contudo, pensar em argumentos, nem
conjecturar nada. Fecharei os olhos e Beatriz me conduzirá.