Com essa história de baixar músicas da internet, nunca sabemos, ao certo, o que estamos adquirindo. Por várias vezes, ao encontrar um título, fiquei animadíssimo. Contudo, depois de baixado o arquivo, percebi que a música pretendida era outra.
Também acontece de adquirir uma canção como se ela fosse interpretada por alguém que nem sequer a cantou. Quando se trata de música instrumental, a coisa é ainda mais complicada.
Foi o que me aconteceu recentemente. Encontrei na rede Somewhere Over the Rainbow, clássico interpretado por vários ícones da música norte-americana, entre eles Ray Charles. Baixei o arquivo porque notei que a interpretação era do Deep Purple. Isso, em si, já era motivo suficiente para aguçar minha curiosidade.
Ouvi a música e fiquei embasbacado. É belíssima a interpretação na guitarra, com agudos e escalas comedidas. Fiquei imaginando Ritchie Blackmore tocando aquela obra-prima com seu inegável virtuosismo. A curiosidade foi, contudo, além da audição da música. Busquei na rede informações sobre a gravação. Se Deep Purple gravou aquilo, deveria haver referência em um de seus discos....
Qual não foi minha surpresa ao notar que vários guitarristas gravaram o clássico? O time é feito só de craques. Se não me engano, estão entre eles Jeff Beck, Jimi Hendrix, Steve Vai, Yngwie Malmsteen, Ritchie Blackmore e Eric Clapton.
Repentinamente, descobri que a versão por mim baixada não era do Deep Purple e tampouco desses guitarristas mencionados. Era do Joe Satriani, cujas mãos flutuam sobre as cordas da guitarra como se fizesse mágica.
Bastante animado, enviei a música para meu pai com uma frase lacônica: "Ouça isso". Por conhecer tantas interpretações, supunha que fosse achar original o arranjo do Satriani e sua banda. Esqueci-me, entretanto, que ele não aprecia virtuosismos.
A resposta, bastante jocosa, não se fez esperar:
- Estridente demais. Para mim, esse conjuntinho cagou no arco-íris.
"Modelando o artista ao seu feitio/ O tempo, com seu lápis impreciso/ Põe-lhe rugas ao redor da boca/ Como contrapesos de um sorriso. "Tempo e artista" - Chico Buarque/1993
domingo, 19 de setembro de 2010
domingo, 12 de setembro de 2010
Ainda política: opções e anulação
Estou parecendo alguns políticos: prometi que não falaria de política aqui. No entanto....
Meu desânimo com a política é tão grande que fico receoso de chegar à conclusão de que vale a pena anular meus votos.
Nunca anulei voto algum. Nunca. Nem mesmo quando tive de optar, no segundo turno de uma eleição majoritária, entre o capeta e o coisa-ruim. Fui para a urna com uma sensação terrível, sabendo que um dos dois fatalmente ganharia o pleito eleitoral. Se fosse o coisa-ruim, estaríamos perdidos. Se fosse o capeta, seria pior ainda. Depois, inferi que os dois seriam desastrosos. Ambos eram realmente terríveis e, sob todos os pontos de vista, tinham suas trajetórias maculadas por toda sorte de desventuras morais e éticas. Pois bem, acho que o coisa-ruim virou o capeta e piorou ainda mais a situação. O outro capeta, excluído do poder, continuou com sua sanha antiquada, mas ainda bastante sedutora para os quadros reacionários da nossa sociedade.
Essa experiência deveria ter servido para me mostrar que, em certas situações, é realmente desejável que se anule o voto. Todavia, até hoje não me convenci disso. Explico minhas razões de forma simples.
Não tenho dúvida sobre a necessidade de refinar, na nossa sociedade, os instrumentos políticos e o processo eleitoral. E não se pode fazer isso abrindo mão da representatividade. É fundamental que aqueles desejosos de melhorar o mundo em que vivem assumam compromissos políticos, tal como assumem compromissos profissionais, sentimentais e religiosos. Disso defluirá a possibilidade de alcançar a maturidade política. Aliás, a educação política deve iniciar-se ainda na fase de desenvolvimento intelectual e cultural do indivíduo. Discutir política, ao contrário do infame ditado popular, é essencial para o amadurecimento da sociedade.
Avaliar propostas e debater programas político-partidários são formas indiretas de intervenção na realidade social. Associado a elas, a escolha de candidatos em pleitos eleitorais cumpre um papel sobremaneira importante para a organização da própria sociedade.
Assim, ainda que repute pertinente sob determinadas situações, discordo da idéia de que o voto nulo é uma forma de protesto. Que protesto é esse? Qual é seu alcance? Qual é o seu sentido prático? O que esse protesto nos diz na discussão da agenda política?
Protesta-se, afinal, contra o quê?
Alguns protestam contra a obrigatoriedade do voto. Não admitem nenhum tipo de imposição e, por isso, se furtam a votar. Não sabemos, entretanto, se não se trata de uma boa desculpa, um grande álibi, que justificaria a alienação política de tanta gente. E se o sufrágio fosse facultativo? Será que os protestos existiriam? Não haveria, porventura, outra razão para se anular o voto? Não se criaria outro álibi para a velha apatia política?
Enfim, não consigo, ainda, elidir a idéia de que todos nós devemos assumir compromissos políticos e não consigo ver a anulação do voto como protesto concreto, viável e útil.
Mário de Andrade tinha toda a razão quando, há vários anos, disse que vivemos a idade política do homem e que a ela temos de servir. Por que não fazemos isso?
Meu desânimo com a política é tão grande que fico receoso de chegar à conclusão de que vale a pena anular meus votos.
Nunca anulei voto algum. Nunca. Nem mesmo quando tive de optar, no segundo turno de uma eleição majoritária, entre o capeta e o coisa-ruim. Fui para a urna com uma sensação terrível, sabendo que um dos dois fatalmente ganharia o pleito eleitoral. Se fosse o coisa-ruim, estaríamos perdidos. Se fosse o capeta, seria pior ainda. Depois, inferi que os dois seriam desastrosos. Ambos eram realmente terríveis e, sob todos os pontos de vista, tinham suas trajetórias maculadas por toda sorte de desventuras morais e éticas. Pois bem, acho que o coisa-ruim virou o capeta e piorou ainda mais a situação. O outro capeta, excluído do poder, continuou com sua sanha antiquada, mas ainda bastante sedutora para os quadros reacionários da nossa sociedade.
Essa experiência deveria ter servido para me mostrar que, em certas situações, é realmente desejável que se anule o voto. Todavia, até hoje não me convenci disso. Explico minhas razões de forma simples.
Não tenho dúvida sobre a necessidade de refinar, na nossa sociedade, os instrumentos políticos e o processo eleitoral. E não se pode fazer isso abrindo mão da representatividade. É fundamental que aqueles desejosos de melhorar o mundo em que vivem assumam compromissos políticos, tal como assumem compromissos profissionais, sentimentais e religiosos. Disso defluirá a possibilidade de alcançar a maturidade política. Aliás, a educação política deve iniciar-se ainda na fase de desenvolvimento intelectual e cultural do indivíduo. Discutir política, ao contrário do infame ditado popular, é essencial para o amadurecimento da sociedade.
Avaliar propostas e debater programas político-partidários são formas indiretas de intervenção na realidade social. Associado a elas, a escolha de candidatos em pleitos eleitorais cumpre um papel sobremaneira importante para a organização da própria sociedade.
Assim, ainda que repute pertinente sob determinadas situações, discordo da idéia de que o voto nulo é uma forma de protesto. Que protesto é esse? Qual é seu alcance? Qual é o seu sentido prático? O que esse protesto nos diz na discussão da agenda política?
Protesta-se, afinal, contra o quê?
Alguns protestam contra a obrigatoriedade do voto. Não admitem nenhum tipo de imposição e, por isso, se furtam a votar. Não sabemos, entretanto, se não se trata de uma boa desculpa, um grande álibi, que justificaria a alienação política de tanta gente. E se o sufrágio fosse facultativo? Será que os protestos existiriam? Não haveria, porventura, outra razão para se anular o voto? Não se criaria outro álibi para a velha apatia política?
Enfim, não consigo, ainda, elidir a idéia de que todos nós devemos assumir compromissos políticos e não consigo ver a anulação do voto como protesto concreto, viável e útil.
Mário de Andrade tinha toda a razão quando, há vários anos, disse que vivemos a idade política do homem e que a ela temos de servir. Por que não fazemos isso?
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Opções políticas
Já não encontro mais desculpas para justificar comentários políticos aqui no blog. Então, vamos lá.
As eleições se aproximam. Desta vez, não condicionarei meus votos à filiação partidária dos candidatos. Antes da minha desilusão com um certo senhor e seu partido, acreditava na necessidade de criar uma cultura política que valorizasse os partidos, que primasse pela fidelidade partidária, que concorresse para a conquista da coerência das condutas ligadas à administração da coisa pública.
Era mais ou menos isso que norteava minha concepção política. Muitas vezes deixei de votar em um candidato que acreditava ser sério e competente apenas porque ele não estava filiado a um partido que correspondesse, ao menos em tese, àquilo que reputava relevante em matéria política. Cheguei a votar em partidos, e não em candidatos. Entendia a lição de Gramsci – segundo a qual o partido político moderno é a expressão fiel do príncipe descrito por Maquiavel – como uma máxima que deveria ser seguida.
Se havia um político num partido liberal, ainda que tivesse grandes virtudes pessoais, meu voto não era dele. Se tivesse, igualmente, enormes virtudes políticas, tanto fazia: não votava nele. A legenda, a ideologia partidária e a trajetória daquele partido no Brasil me impediam de fazê-lo.
Embora nunca tenha me filiado a ele, tinha em alta conta aquele partido que, a despeito de todas as suas deficiências, não aceitava políticos que pudessem incorrer em condutas moralmente questionáveis ou ilícitas. Nele, dissessem o que quisessem, não havia nenhum político envolvido com escândalos, com fraudes ou bandalheiras. Dizia-se, com frequência, que em seus quadros reinava a decência, a lisura, a honestidade, e outros tantos adjetivos tão importantes ao padrão médio da moralidade "pequeno burguesa".
Foi esse mesmo partido que, após algumas desventuras na esfera ética, fez-me mudar, radicalmente, a maneira pela qual deveria vislumbrar a política. Hoje, pouco se me dá se o partido do meu candidato tem um pé na social-democracia ou mesmo na liberal-democracia. Isso já não constitui razão bastante para eliminar um determinado candidato de minhas opções.
Entendo que todos os partidos estão sujeitos a acolherem políticos de variada estirpe. Todos, sem exceção, devem abrigar homens que não vivem para a política, mas que vivem da política como um meio de auto promoção material e social. Não creio ser tarefa fácil enumerar os políticos com vocação, alheios a interesses pessoais, dispostos a lutar pelo bem comum, como seria de se supor relativamente à atividade política.
Pode até parecer que esteja reproduzindo o velho jargão de que "todo político é igual, que todos os partidos são iguais". Será que não são? Não, é claro que não são todos iguais. São "quase" iguais. A linha de ruptura, de separação entre eles, é fina, tênue, muito lábil....
Demorou bastante para que eu, ingênuo, constatasse essa infame realidade. E o que me causa mais perplexidade é que a opinião pública e o senso comum "quase" estavam com a razão: são todos iguais. É uma pena....
As eleições se aproximam. Desta vez, não condicionarei meus votos à filiação partidária dos candidatos. Antes da minha desilusão com um certo senhor e seu partido, acreditava na necessidade de criar uma cultura política que valorizasse os partidos, que primasse pela fidelidade partidária, que concorresse para a conquista da coerência das condutas ligadas à administração da coisa pública.
Era mais ou menos isso que norteava minha concepção política. Muitas vezes deixei de votar em um candidato que acreditava ser sério e competente apenas porque ele não estava filiado a um partido que correspondesse, ao menos em tese, àquilo que reputava relevante em matéria política. Cheguei a votar em partidos, e não em candidatos. Entendia a lição de Gramsci – segundo a qual o partido político moderno é a expressão fiel do príncipe descrito por Maquiavel – como uma máxima que deveria ser seguida.
Se havia um político num partido liberal, ainda que tivesse grandes virtudes pessoais, meu voto não era dele. Se tivesse, igualmente, enormes virtudes políticas, tanto fazia: não votava nele. A legenda, a ideologia partidária e a trajetória daquele partido no Brasil me impediam de fazê-lo.
Embora nunca tenha me filiado a ele, tinha em alta conta aquele partido que, a despeito de todas as suas deficiências, não aceitava políticos que pudessem incorrer em condutas moralmente questionáveis ou ilícitas. Nele, dissessem o que quisessem, não havia nenhum político envolvido com escândalos, com fraudes ou bandalheiras. Dizia-se, com frequência, que em seus quadros reinava a decência, a lisura, a honestidade, e outros tantos adjetivos tão importantes ao padrão médio da moralidade "pequeno burguesa".
Foi esse mesmo partido que, após algumas desventuras na esfera ética, fez-me mudar, radicalmente, a maneira pela qual deveria vislumbrar a política. Hoje, pouco se me dá se o partido do meu candidato tem um pé na social-democracia ou mesmo na liberal-democracia. Isso já não constitui razão bastante para eliminar um determinado candidato de minhas opções.
Entendo que todos os partidos estão sujeitos a acolherem políticos de variada estirpe. Todos, sem exceção, devem abrigar homens que não vivem para a política, mas que vivem da política como um meio de auto promoção material e social. Não creio ser tarefa fácil enumerar os políticos com vocação, alheios a interesses pessoais, dispostos a lutar pelo bem comum, como seria de se supor relativamente à atividade política.
Pode até parecer que esteja reproduzindo o velho jargão de que "todo político é igual, que todos os partidos são iguais". Será que não são? Não, é claro que não são todos iguais. São "quase" iguais. A linha de ruptura, de separação entre eles, é fina, tênue, muito lábil....
Demorou bastante para que eu, ingênuo, constatasse essa infame realidade. E o que me causa mais perplexidade é que a opinião pública e o senso comum "quase" estavam com a razão: são todos iguais. É uma pena....
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