domingo, 2 de maio de 2010

Detalhes inúteis

Estive recentemente numa pequena cidade do interior paulista. Precisei tirar uns xerox. Entrei na casa onde as cópias seriam feitas. Era um imóvel antigo, com muitos papéis afixados na parede. Ali seria possível tirar cópias xerográficas, converter VHS para DVD e até elaborar e imprimir currículos.

O preço de cada versão do currículo, incluindo 10 cópias, era R$ 3,00 (três reais). Se a esse valor fosse aduzido R$ 1,00 (um real), o consumidor ganharia uma lista de classificados de empregos da cidade. Nada mais coerente: o indivíduo vai lá, imprime seu currículo e ainda ganha as opções para enviá-lo. Serviço quase completo.

Justamente no momento em que entrei na fila para ser atendido, notei que uma moça estava a ditar os dados de seu currículo para a atendente que ali trabalhava sozinha. O currículo em questão nem era extenso, mas demorou um bocado para ser concluído e impresso.

Embora estivesse com pressa, fiquei quieto e pensei que a situação exigia compreensão. Afinal, estava diante de alguém que procurava por emprego e necessitava garantir sua subsistência. Notei que as informações do currículo lhe eram muito caras. Ela fazia questão produzir seu histórico de maneira didática.

Sucedeu que, quando da impressão da versão final do currículo, a moça notou que as folhas estavam com "pequenas manchinhas", segundo suas próprias palavras. Eu teria de esperar mais um tempo para ser atendido. Curioso, desloquei-me sutilmente para ver as manchinhas. Não as vi. Pensei que os óculos recentemente trocados pudessem ter me levado a algum equívoco. Aproximei-me das folhas à procura do problema apontado. Nada. Travou-se quase um debate entre a moça e a atendente.

Ainda sem ver as tais manchas, cogitei de falar com a moça, explicando que, tratando-se de algo tão singelo, quase imperceptível, ela não teria prejuízo algum. Diria que o importante no currículo é o conteúdo e não a forma como ele é apresentado. A essa altura dos acontecimentos, notei que ela pôs as mãos no rosto e esboçou uma cara de profunda insatisfação, quase um choro.

Já quase em desespero, disse à atendente:

- Veja! São mínimos detalhes que vão fazer toda a diferença para quem for receber meu currículo.

Embora insignificantes, os detalhes lhe eram sobremaneira importantes e muito provavelmente justificariam eventual insucesso na conquista de outro emprego.

Saí de lá sem saber o desfecho daquela história. Todavia, fiquei pensando em quanto tempo perdemos com detalhes inúteis.

Um comentário:

Antonio Ozaí da Silva disse...

Roberto,

gosto do seu jeito de escrever sobre o cotidiano. Parabéns!!

É verdade! Quanto tempo na vida perdemos em detalhes inúteis!!! E, pior, nem sempre percebemos a inutilidade.

Abraços e tudo de bom,