sábado, 6 de junho de 2009

Gorducho

"Parábola do homem comum
Roçando o céu
Um
Senhor chapéu
Para delírio das gerais"
(Chico Buarque)

Embora não concorde com a idéia de que futebol não se discute, procuro evitar muita falação sobre o assunto. Já vi brigas sérias por causa de jogos, jogadores, esquemas táticos e apelidos. Sempre há alguém que não consegue manter a isenção necessária ou o bom senso para manter a conversa em níveis civilizados.

Generalizações também são inevitáveis. Fala-se de times e torcedores como se todos representassem uma única opinião, tivessem o mesmo comportamento e significassem a mesma coisa. Assim, difundem-se idéias absolutamente equivocadas como aquelas que atribuem a todo corintiano a pecha da tendência marginal e aos sãopaulinos a preponderância de traços homossexuais masculinos. A estupidez é grande e, acreditem, ainda existe.

Se hoje escrevo sobre futebol, não é para falar do meu time, mas para mencionar algo que está acima dele e de todos os demais. Trata-se da genialidade do velho Ronaldo, o gorducho (como sempre diz a Ivana Arruda Leite em seu blog), que todos diziam ultrapassado e morto na arena do futebol.

Não sou conhecedor de sua trajetória. Acompanhei com entusiasmo sua recuperação após aquela malfadada arrancada que culminou na fratura exposta de seu joelho. Confesso que não acreditava em sua recuperação. Para mim, Ronaldo havia perdido o viço e a força do arranque.

Enganei-me. O gorducho (que ainda não era gordo), se superou. Foi convocado para a Copa de 2002; foi artilheiro, marcou os dois gols da grande final; tornou-se campeão mundial pela segunda vez.

Depois disso, ficou na Europa. Deve ter tido novos problemas e sua carreira se afigurava cada vez mais decadente. Cadê Ronaldo?

Pouco tempo antes de ser contratado pelo Timão, vi uma foto sui generis: barrigudo, cabeludo e com cigarro na mão, Ronaldo dava ares de boemia e sedentarismo. Aquela foto me pareceu a comprovação do fim de sua carreira. Dali para frente nada mais seria possível. Ronaldo viveria das glórias, do dinheiro, da fama e do prestígio já conquistados.

Enganei-me novamente.

Seu retorno se deu pouco a pouco, sem pressa, mas com confiança. O gorducho entrou para jogar poucos minutos, não completara meio jogo. Depois, foi ganhando espaço. Marcou gol no final do segundo tempo, fez dribles memoráveis e foi seguindo. Muita gente ainda desconfiava, mas estava de volta.

Na primeira final do campeonato paulista contra o Santos, Ronaldo nos brindou com sua genialidade. Parou no pé uma bola impossível de ser estancada, grudou-a literalmente em sua perna, como se ali houvesse cola. Rumou para o primeiro gol, num átimo.

O segundo, incontestavelmente um gol de placa, foi uma pintura. Com um drible de rara beleza plástica, arrumou a bola e encobriu o goleiro "num senhor chapéu", como diria o poeta.

O rei, que estava na Vila Belmiro assistindo ao jogo, retirou-se. Disse que aquele foi um gol de Pelé em Copa do Mundo.

No ano que vem, quem sabe....

Em tempo: como não tenho a menor vocação para comentarista esportivo, sugiro a leitura das crônicas de Nelson Rodrigues sobre futebol. São primorosas!

Um comentário:

Anônimo disse...

em primeiro lugar, o moderador do blog deve NECESSARIAMENTE(isso não é uma hipótese, mas uma delicada ordem ditada por um mínimo de autocensura) vetar esse comentário: mas que papo é esse de dizer que o gorducho " é algo maior" do que timão!?!? Isto está fora dos limites, mesmo dos abdominais, do nosso querido bola cheia... saudações alvi negras do centro-oeste brasileiro!