Tal como os escritores modernistas, creio que os caras-pintadas não
tinham muita consciência do que faziam. É claro que o momento político incitava
a todos os jovens a protestar, exprimir seus pontos de vista e discutir em
rodas de bar as razões da iminente derrota de Collor. A despeito de uma parcela
realmente interessada no debate político, havia uma turma que se comprazia em
aproveitar a movimentação para, digamos assim, escoar alguns excessos da
juventude. Correndo o risco do exagero e de certo conservadorismo, poder-se-ia
dizer que os caras-pintadas eram, em sua maioria, uma turma de oba-oba! Uns inconscientes,
como diriam os modernistas.
Não foram poucas as passeatas de protesto a favor do impeachment. Em cada cidade havia uma,
desde que, é claro, nela houvesse alguma turbulência política. Vi a passeata de
Araraquara, em 1992. Não tinha o entusiasmo necessário para engrossar as filas
da rebeldia política, mas acompanhei da calçada, juntamente com alguns amigos
mais contidos, como eu.
Até mesmo pré-adolescentes e adolescentes estavam por lá. Era
interessante ver aquela gente tão nova já participando da política, da
definição do destino de um presidente que, após longo tempo de eleições
indiretas, havia vencido o pleito eleitoral. Muitos deles diziam que tinham
opinião e queriam-na respeitada. Bradavam pela transparência, pela ética, pela
democracia e pela moralidade na política. Em suma, levantavam as bandeiras que
o então maior partido da oposição (PT) defendia. Às vésperas do século XXI, a puberdade
passou a incluir entre seus atributos uma sólida consciência política. Era de
admirar!
A respeito do assunto, há algum tempo, Mariana Ximenes, atriz global,
deu uma entrevista no quadro Minha Adolescência, do programa Altas Horas,
dizendo que se lembrava do impeachment,
que saiu às ruas, etc: “Me lembro do impeachment.
Me lembro forte. A gente saía na rua. Foi uma época muito marcante. Tirar um
presidente...”. Em 1992, a
atriz tinha 11 aninhos e já era imbuída de consciência política. Como ela, deve
ter havido tantas outras jovens “conscientes”...
Quando olho para trás, fico curioso: gostaria de saber o que aqueles
jovens tão engajados pensam do momento atual, como interpretaram a ascensão de
Lula e a prisão dos chamados mensaleiros. Também me pergunto se chegaram a redefinir suas noções de respeito à coisa pública, lisura, ética, democracia...
Será que, hoje, eles também têm alguma opinião?