Nunca uma novela das oito esteve tão próxima do cinema como
Avenida Brasil, no capítulo da quinta-feira (11/10). Com cenas capazes de remeter
o telespectador a clássicos como “Sob o domínio do medo” (Sam Peckinpah) ou a
“Horas de desespero” (William Wyler), as tomadas feitas no barraco de Mãe
Lucinda mostraram como uma trama novelesca pode se alçar ao requinte de grandes
obras cinematográficas. A fotografia, impecável, conciliou o clima sombrio da
circunstância narrada com um ambiente claustrofóbico que, embora escuro, não
deixou de evidenciar os movimentos dos personagens e sua precisa identificação.
Pois é, via-se com clareza a tudo e a todos.
Essa aproximação com algum thriller da telona não foi,
entretanto, o grande mérito do capítulo. Por meio dele, o telespectador acompanhou
a derrocada de um personagem sui generis da teledramaturgia brasileira: um
vilão titubeante, submisso e nada exitoso. As inúmeras desventuras por ele
amealhadas ao longo da trama certamente culminariam no evidente desfecho de sua
morte. Tanto melhor que assim fosse, sobretudo porque seria ela, em momento
imediatamente anterior, o elemento ensejador da catarse do desgraçado
personagem.
No barraco de Lucinda, o cenário estava quase completo. Além
de ter levado Carminha para lá, Max foi surpreendido com o auxílio do acaso:
para o espetáculo que pretendia realizar, contou com a presença de Nina. De
posse da pistola antes furtada de Tufão, subjugou a todos. Amarrou os pais, a
ex-mulher – a quem não cansou de chamar de vagabunda – e a pretensa amante. Regado
a goles cadenciados de cachaça, revelou que nem mesmo ele se amava e assinalou
o desprezo que sempre recebeu dos pais. Iniciava-se ali a purgação que seria
coroada com a evocação do dia do Juízo Final. Antes de sua descida ao inferno –
como se estivesse ciente que seu único destino seria aquele –, Max lograria ter
algo que jamais conseguiu: Nina. A expectativa da curra acentuou ainda mais o
clima de tensão no barraco, que só foi quebrado com a heroica e piegas chegada
de Jorginho.
Depois de dominar o filho, atirou aos quatro ventos uma profusão
de diatribes, revelando recalques que ninguém imaginou povoar suas ideias. Em tempos
mais ditosos, ele ansiava pela constituição de uma família. Mostrou-se
profundamente desgostoso ao mencionar que tinha planos para o filho. Queria dar
seu nome a ele, mas, por imposição de Carminha, o guri se chamou Cristiano. “Você
gostava de mim”, revelou ao garoto, reivindicando a paternidade afetiva que
Tufão lhe roubara. “Era assim que você me chamava: papai“, relatou ao menino.
“Você não se lembra?”. É claro que Jorginho não se recordava de nada. Era
pequeno ainda, sem memória formada. Também não se lembrava de que foi o pai
biológico quem lhe presenteou com a primeira bola de futebol. Com ele, jogava
pelada nos fundos de sua casa. Com essa revelação, de maneira inédita na trama,
o vilão pleiteava para si os tributos que o menino pagava a Tufão pelo suposto talento
que dele havia herdado para o trato com a pelota. Os reclames de Max não
prosperaram.
Aquela família rapidamente desenhada pelo desengonçado vilão
talvez jamais subsistisse à ambição de Carminha. De maneira escancarada, ela
sempre manipularia o parceiro, fato ao qual, aliás, se poderia creditar todos
os seus insucessos e sua inequívoca insegurança.
Pouco antes de ser assassinado, já a sós com Nina em lugar
desconhecido, Max fez a última tentativa de determinar o seu destino. Ao ouvir da
menina que deveria matá-la naquele instante, sem mais delongas, limitou-se a
dizer que o faria apenas quando quisesse (“eu mato quando eu quiser”). Nem
mesmo disso foi capaz. O sempre titubeante vilão perdeu o jogo antes de marcar
um único ponto.