Lembro-me de ter lido, no início da década de 1990, a entrevista de um jornalista que estava prestes a assumir um cargo público em São Paulo. Seu pai, àquela época já falecido, foi um comunista bastante ativo. Costumava dizer aos filhos (um dos quais, filósofo marxista) que quando alguma coisa estivesse errada, seria preciso olhar em direção ao Kremlin. Um dia, o jornalista resolveu romper com o comunismo. Abandonara as convicções que sempre deram sentido à vida do pai. Ideologicamente, distanciou-se dele e do irmão.
Na entrevista, o tal jornalista contou que tivera um sonho bastante significativo a respeito de seu rompimento com as tendências de esquerda: num quarto branco, sóbrio, sem cores, ele levantava o pai pelo colarinho e gritava:
- Você me enganou! Você me enganou!
O pai, provavelmente ciente de que escolhemos ideologias por afinidades e devemos recusá-las quando desejamos, apenas respondeu:
- Homem não chora! Homem não chora!
Hoje, quando olho para trás, relembro minhas opções políticas sem arrependimento. Mas, quando vejo que os representantes que ajudei a eleger servem para perpetuar o que há de mais atrasado na política brasileira e ainda reivindicam o monopólio da moralidade pública, confesso que tenho vontade de chorar.
É nessas horas que lembro da lição do velho comunista: homem não chora!